1ª Aula de Vela a sério - Tratamento de choque

   Que dia esse! Que dias estes últimos que temos tido aqui, neste pedaço de terra! Já tem sido difícil convencer o meu rebento do meio que é fixe ir para a vela, estar no meio do mar a brincar com um barquinho que é mesmo a cara dele... e as baleias... os tubarões... se o barco se vira... se ficamos encalhados... se, se,se... (este meu miúdo é muito irónico!). A cara dele ao olhar para mim logo que o acordo é conclusivo: que grande seca me estás tu a impingir, só tenho o fim de semana para dormir mais um bocadinho e nem isso me deixas... ai que não dormi nada esta noite... sinto-me doente... estou febril... não tens dó de mim, mãe ingrata! Após esgotar o meu repertório pedagógico tentando-o aliciar para a graça da coisa, empreitada  perdida desde logo, parto para uma estratégia mais dura mas muito mais eficaz: agarro-o por um pernil e arrasto-o para fora de cama; é drástico mas surte sempre bom efeito, deixa-o acordado e irritado e mais acelerado o que permite antever que consigo na hora que se segue que calce as meias e chegue à porta do quarto. A partir daí é gritaria garantida, chantagem emocional... faço tudo por vocês e é assim que me agradecem, blá.blá blá, isto de ter filhos permite-nos usar as mesmas armas que são usadas contra nós. Nesse ponto já desceu as escadas e sorveu 5 ml do leite de pacote ( que é mais rápido e sempre dá para ir bebendo pelo caminho), os  sapatos vão de atacadores desapertados e é empurrado no caminho para a porta sem contemplações. De melindre requintado vai sempre pelo caminho mais longo, a contar os passos, de rosto fechado e olhar assassino. Se o irmão entrou pela porta da esquerda do carro e se sentou logo alí é por ali que quer entrar também nem que seja para me deixar ainda mais congestionada de raiva. Lentamente dá a volta ao carro, sem pressas, entra e suspira. Eu respiro fundo, conto até dez, reviro os olhos e respiro mais uma vez, ligo o carro e arranco!
   "Bonito, vai ser muito agradável, a chover torrencialmente, queres que fiquemos doentes, quem é o maluco que se lembra de ir fazer vela, VELA com este tempo!" A ruminação continua todo o caminho até ao porto, eu cheiinha, prontinha para lhe dar um aperto, ai, ai !
   E a chuva que não pára, aquela "chuvinha de tolos que molha discretos" como dizem os terceirenses e que nos deixa encharcadinhos sem darmos conta!
   Rápido, coletes vestidos, algumas recomendações, evito o seu olhar para não me passar de vez, vá prof toma lá ele, é todo teu, tempo para umas fotos ilustrativas da sua boa vontade!



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