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A mostrar mensagens de 2012

Uma espécie de loucura

   É a inevitabilidade dos finais de ano: retrospectivas de tudo e mais alguma coisa e promessas de que o próximo será diferente e que para isso se moverá montanhas se preciso for para que se cumpra o que se prometeu! Eu cá normalmente não faço promessas, peço é a Deus e a mim, de que tudo depende, que não fique mais doida do que já penso que sou. Explico-me: eu sou uma alma positiva no entanto cheia de minhoquices na cabeça. Uma certa forma de ser louca mas consciente desse facto, o que por si já deve significar que não deve ser coisa de grande gravidade! Penso eu... Quando tinha vinte anos achava que ia morrer antes dos trinta. Já muito antes, quando tinha oito anos tinha a franca percepção que não chegava aos nove. Cheguei ao dia em que fiz os nove anos e fiquei surpreendida, andava já a preparar-me há muito tempo para que a passagem da minha vida por este mundo fosse breve e não tivesse nada verdadeiramente importante para levar dele. A ideia era tão clara na minha cabeça que nos

Loucos... professores!

    É nas minhas idas para a vila de S. Sebastião e no regresso a casa que mais penso; normalmente penso, valha-me isso, mas aqui, no carro do pão azul de amortecedores de carroça,  o cérebro  entrechoca-se  e as sinapses nervosas dão-se mais depressa, para o melhor e amiúde para o pior! E quando digo pior quero com isso dizer que me dá para pensar mal! Pensar mal de alguma coisa, de alguém, umas vezes com razão, grande parte das vezes sem ela! Pensar como nesta vida de 45 anos me deparei já com tanta gente que tanto tempo me fez perder! Que é algo que com 45 anos já não tenho paciência: perder tempo com gente que nada me diz, nada me dirá e com quem não tenho a mínima vontade de confraternizar! E todos nós sabemos como nesta vida tantas vezes temos que aguentar, conviver, falar, partilhar tempos, momentos, instantes que, podendo nós sermos inteiramente livres de gerir as nossas vidas, nunca nos cruzariamos, nunca falariamos, nunca respirariamos o mesmo ar. Parece cruel, é cruel, é as
   A lojeca da Worten no Modelo de Angra é de fugir e só lá entro sob protesto! Ou por especial pedido dos meus filhos. O meu filho mais novo tinha umas poupanças e quis ir comprar o seu presente de natal, o que me pareceu bem. Não conseguindo fugir ao inevitável lá entramos no sitio, repleto de gente e com uma alminha a atender. Nada no seu corpo evidenciava um andar mais rápido, um olhar mais acutilante para responder lesto às solicitações de uma manada de gente num domingo à tarde, muito pelo contrário. Dirigi-me ao funcionário e perguntei: não há mais ninguém a atender? Alguém para a caixa?! Olhou para mim com olhos de quem olha e não vê, respondeu-me que o outro funcionário tinha saído para atender alguém dentro do supermercado (!!!) Parece-vos bem que num domingo à tarde, com um maranhal de gente a cirandar por ai, haja duas pessoas a atender e uma delas em parte incerta?! Olhou para mim com ar de quem ouviu mas não processou e encolheu os ombros retomando a sua empreitada, deva

A ver deus!

   Outro dia tive uma conversa muito interessante e esclarecedora sobre uma corrente muito em voga nos dias que correm, entre gente que tem, entre quase  nada para fazer e nada para fazer, tempo de sobra e não sabe muito bem que outras formas criativas inventar para gastar o seu dinheiro que tem que ser muito.  Falo das festas muito exclusivas e tremendamente caras onde o objectivo primordial é ter sexo, de preferência muito e com muita gente diferente. Uma rebaldaria pegada mas com muito nível! Fui investigar o fenómeno e descobri a empresa principal que se dedica a estas coisas, há outras mas são sucedâneos rascas que não dão estatuto; essa tal de que falo parece que está altamente próspera e com tendência para melhorar ainda mais e toda a gente que quer enrolar-se em grupo mas enrolar-se com estilo, a procura. Palavra de ordem para estas festas: discrição. O pessoal que as frequenta é altamente discreto e deseja anonimato. Mesmo que passe a noite de pernas abertas e de pirilau em r
   Hoje levantei-me ainda com mais energia do que é habitual; com a energia que emprego quando me lembro de nova coisa para fazer: vou começar a correr! Correr é só a mais detestável forma de fazer exercício físico e no entanto parece-me que para mim, vai ser a única coisa que resulta. Desde que, numa época quase dinossáurica caí na asneira de participar num corta-mato do liceu, cá em Angra e terminei em último lugar das meninas e portanto atrás de toda a gente, e para mais com a suprema humilhação de nem ter corrido com umas sapatilhas minhas, jurei que nunca mais correria, se para tal não fosse obrigada. É verdade que quando passei pelo Isef, percebi que até conseguia correr tempos infindos sem morrer entretanto de exaustão; tenho boas recordações de grandes corridas com os meus colegas pelos campos circundantes que iam ter ao estádio nacional, mas esse estado de graça terminou e empreguei o meu tempo a fazer outras coisas, a maior parte delas sem ter que ver com o exercício físico.

O bicho-papão

   Não tenho especial predilecção por idas ao dentista! Não é com jubilo que lá vou no entanto o sentimento não é de medo, é simples resignação! O meu quinhão de saudável carga genética no que à dentuça diz respeito não foi generoso comigo pelo que frequento dentistas desde miúda! Hoje, de boca aberta durante uma hora, dócil que nem um cordeiro, tive tempo para rever todas as minhas experiências nesta matéria e reflectindo melhor, concluo que, após tantas provações, eu e a bacana da minha actual dentista somos quase amigas e respeitamo-nos mutuamente!     Havia um ser, nos idos anos oitenta, aqui na Terceira, que me infernizava a vida, um médico de tal forma demoníaco que me impedia de dormir na véspera de o visitar. Era um abrutalhado que toda a gente, provavelmente os que não tinham nunca provado a sua delicadeza em acção, dizia que o homem era muito bom médico, sim, tinha um feitio um pouco especial mas ninguém poderia negar a sua competência. A mim parecia-me o diabo em forma de

A arte de bem comer

   Quero dizer desde já que a importância deste escrito é muito relativa pelo que tendo outras coisas para fazer não percam o vosso tempo aqui! Ficam avisados!      Gosto de observar gente! Gosto de ver como andam e como correm, se  põem os pés para dentro, se caminham com eles para fora, se são gingões a andar ou tesos que nem carapaus, se arrastam os pés, se balançam os braços ... tantas variações sobre um tema! Agrada-me ver os gestos físicos corriqueiros do dia-a-dia, gosto de ver a forma como descansam os braços quando não têm nada de útil para fazer com eles.Gosto MUITO de observar gente a comer! No acto de alimentação em publico há uma grande dose de vulnerabilidade! Não se pode ter comportamentos em publico que reservamos para casa, de portas fechadas, sem ninguém a ver! Os códigos de conduta são muito rígidos e se alguém insiste em transgredi-los  ouvirá ou sentirá sem que lhe digam que " come que nem um porco!" Sujeita-se! Pessoas há que comem com vontade, nã

O Aliança

   Este ano inicio as aulas às 9,00 e essa circunstância abre-me horizontes nunca antes possíveis. Na impossibilidade de ir dormir a casa uma sestinha depois de  levar os putos à escola às oito e não querendo passar pela indignidade de ir dormitar o resto do tempo para o parque de estacionamento da escola como um cão abandonado, tornei-me frequentadora de cafés. Para fazer tempo, para me integrar no espírito da cidade, para cuscar um pouco, para observar. Comecei pelo People, na rua direita, tem uma empregada gira e espevitada mas sempre mortiço às 8,00 tirando o senhor sem-abrigo que marca o ponto religiosamente, a fumar o seu cigarrito, subitamente famoso depois do artigo que saiu no Diário Insular ( ou foi no União?!) sobre aquela associação de contornos suspeitos que quer erradicar das ruas quem nas ruas lhe apetece ficar. Parece que aquele velhote é um de poucos que dorme pelos cantos da cidade e isso causa transtorno a certas pessoas de espírito solidário vincado, uma afronta a
   Na minha escola como acredito que em grande parte das escolas deste país, metade dos alunos se não mais do que isso, está incluído num escalão máximo de ajudas do estado que passa pela gratuitidade das refeições e diminuição ou gratuitidade dos manuais escolares e transportes escolares/ passes. Outro grande grupo de população escolar pertence também a escalões onde pagam menos, por exemplo, 50 cêntimos por refeição.    Este ano, porque tenho tempo e disponibilidade, almoço pelo menos duas vezes por semana na cantina da escola; almoço junto com os alunos porque gosto de observar. O almoço de hoje foi: sopa de grão, douradinhos com arroz de tomate, salada de alface, cenoura e cubinhos de maçã,  maçã como sobremesa (duas qualidades à escolha) e um papo-seco (embalado individualmente). Água para beber. Preço por aluno sem escalão: 2,14€ com multa de 30 cêntimos se comprada no próprio dia; preço para professor: 4,27€ com multa se comprada no próprio dia.    Qualidade da refeição - o

Festival AngraJazz - a reportagem alternativa

    Terminou o 14º Festival Angrajazz, o meu terceiro, cumpridos sempre os 3 dias do calendário, junto  dos mesmos amigos, a maioria dos quais que percebe mais de jazz do que eu irei perceber, mesmo que me afinque, até ao resto da minha vida. Consigo perceber se a música me diz algo, se mexe comigo, se me faz querer ouvir mais; consigo perceber se os músicos são virtuosos, bons instrumentistas, mas pouco mais. Nessa área não me meto! O que me resta falar, então?! Ai, tanto!     Três dias, seis grupos! Sala do auditório, do Centro Cultural de Angra! Mesas dispostas no centro, bancadas a rodeá-las.  O publico feminino, regra geral, vem vestido de forma cuidada, as senhoras de saltos altos e trajes elegantes ainda que não excessivos, os homens normalmente parecem uns pelintras perto delas. Cada vez mais desmazelados! Parece que ninguém acha já importante cuidar-se! Excepções para casamento e batizados em que se exagera ao contrário mas não é preciso muito tempo para que os homens, se

A casa da rua do Faleiro

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Rumo a S. Jorge - dia 6

   Alvorada bem cedo, comprar pão para o pessoal e descobrir onde tomar banho. É logo ali com uma piscina artificial junto a uma pequena enseada de rochas e onde forma alguns nichos de lagoinhas . Sem carro para nos levar aos seis e porque a ideia é descobrirmos as ilhas de fora para dentro, decidimos zarpar para as Lajes e descobrir a terceira vila da ilha do Pico.  São 15,30 e estamos a ir a uma velocidade de 6 nós e com um vento imenso a 27 nós. O barco normalmente inclinado a uns bons 45 graus e com o nosso skipper a ter que fazer algumas mudanças de bordo que obriga ao pessoal da cabina e equilíbrios constantes. Está tudo com um ar de aborrecimento e meio mareados. A Sofia, inacreditavelmente já vomitou o que a deixou mais bem disposta. O conforto nestas alturas não existe mas se quisessemos conforto tinhamos vindo de avião e ficavamos num hotel. A tarde está luminosa e a temperatura amena.   Da minha parte estou a apreciar cada momento.  

Rumo a São Jorge - dia 5

   Hoje houve mudança de planos; infelizmente o tempo estava instável e decidiu-se não nos mantermos no plano que tinhamos traçado de percorrermos a restante costa sul de São Jorge e daí zarparmos até à Terceira. Havia outras duas possibilidades: ou regressarmos de imediato à Terceira ou irmos dar um pulinho até ao Pico. Ninguém estava com vontade de regressar a casa pelo que se decidiu ir até São Roque, a única vila do Pico na costa norte da ilha e por conseguinte mais próxima de São Jorge. Após 3 horas de navegação a bater bem, com vagas jeitosas e muita molha pelo caminho chegamos a São Roque; infelizmente o tempo mantinha-se tormentoso e ninguém queria passar outra noite parecida com a segunda da Fajã de Santo Cristo pelo que decidimos que, já que estavamos ali porque não ir até à Madalena que tem um bom porto de abrigo. O Zé Carlos baixou as velas, ligou o motor e lá fomos nós, mais mortos que vivos, tudo a dormitar na cabina menos o nosso skipper que se manteve sempre incansável

Rumo a São Jorge - dia 4

   Hoje foi um dia para descansar e passear. Não andamos para muito longe, usufruimos da vila das Velas, que é pequenina mas bonita, com uma igreja à sua escala mas um interior muito rico. O edificio da Câmara Municipal é robusto mas bonito, o jardim da vila é uma pequena delícia com o seu coreto vermelho e todo vedado com um gradeamento verde. As ruas muito limpinhas, as casas arranjadas. A zona balnear, Poça dos Frades, tem uma vista privilegiada para o Pico e o seu pico que hoje estava quase completamente à vista. Um tempinho para visitar o cemitério da vila onde descobri uma figueira a transbordar de figos, que papei sem contemplações. O almoço feito pela Sofia para terminar a manhã, bicuda frita com arroz de tomate, umas frescas e uns martinis pela tarde e uma sopa ao jantar para rematar. Cá nos encontramos nós seis, a jantar sopa inventada pela Sofia, uma mistela saborosa com multiplos vegetais a boiarem na água, que varinha mágica não há. A Sofia que já me está a lançar uns olh

Rumo a S. Jorge - dias 2 e 3

   Diário de bordo - 13,00 do dia 27 - ontem passamos o dia inteiro na Fajã de Sto Cristo. O dia não estava de feição e não havia rede para escrever blogues nem nada destas coisas modernas. Foi um dia de cansaço extremo com uma subida de meia hora até à cascata da fajã. Antes disso houve que ver onde trazer o bote até terra em segurança. Como as facilidades não acontecem em momentos de aventura, o motor do bore enxurrou e à força de remos chegamos a terra. Almoçamos na unica tasca da fajã e conhecemos o poeta, escritor e desenhador Emanuel que para além de todas estas qualidades também é bom comerciante e tivemos que entrar num bate-boca que como sempre, deixa os meus filhos muito envergonhados porque acham que eu falo demais e que tenho a mania que sou esperta. Um banho na caldeira para terminar e regressamos ao bote, uma corrente meia manhosa que nos fez ficar encharcados até aos ossos. A noite a bordo foi temerosa, uma ondulação que não deixou ninguém  dormir na sério. O nosso skip

Rumo a São Jorge

 Diário de bordo - 25 de Agosto ,21,30 da noite  e é noite cerrada. Estamos a duas horas de caminho de S. Jorge,vindos da Terceira, no barco à vela do Zé Carlos.  O Bonito apanhou bom vento a partir de meio da viagem e se no inicio se fez ao mar com a ajuda do motor, há mais de três horas que navega só com a ajuda do vento, que é para isso que deve servir um veleiro com orgulho de o ser.  O destino final é a Fajã de Santo Cristo, na costa norte da ilha. A lua em quarto crescente à nossa esquerda, dentro de uma semana temos a lua cheia, lua azul assim chamada por ser a segunda no mesmo mês. O barco corre agora à velocidade de 6,5 nós com rajadas de 18 nós, mas quando desligámos  o motor viemos a assapar a 10 nós. Apesar do vento a aragem é pouco agreste. Está toda a gente ansiosa por chegar, a Sofia e eu que desconhecemos esta fajã, os miúdos que já estão moídos de tanto mar. O João e o Gui enfiaram-se dentro de sacos-cama no deck do barco, o Vasco, diferente de todos dorme sossegado n

Azares ... ou não! Uma questão de perspectiva!

       Hoje iniciei o dia com um furo num pneu; é bem feito porque tenho sempre a mania que consigo passar em cada regozinho de estrada; pimba, em plena cidade, no meio da azáfama do quase meio-dia, ouço o som insuportável do chiar do pneu a esvaziar furiosamente após ser trincado, sem apelo nem agravo num passeio, ali para as bandas da Praça Velha! Ainda pensei poder, muito devagarinho, chegar à casa do mecânico, no Pico da Urze (ainda em negação!), o nhanhac da jante a rolar pelo chão fez-me parar ali, juntinho dos Correios.     Como a idade sempre traz, aparentemente, alguma sabedoria, saltei a parte dos impropérios e da auto-comiseração que sabe sempre bem, do género" só a mim é que acontece isto", esquecidos que estamos de habituados a ver outros na mesma situação que nós, em lamentos iguais, dizia, ignorei todo o ritual que surge após o azar e parti imediatamente para a mudança do pneu , preocupada em chegar à Silveira, ainda da parte da manhã. Imediatamente, duas co