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A mostrar mensagens de 2014
 O ser hipocondríaco é arguto e inteligente e não se deixa vergar por evidências simples; se a tosse surge por  uma qualquer mudança de temperatura, a causa que aponta não será a do ar condicionado mas sim das substâncias mortiferas que se escondem nos seus tubos; nunca será a mais inofensiva, a doença de que sofre é galopante e fatal e não há nada nem ninguém que o convença que daquilo não morre; só larga o osso quando descobre outra doença ainda mais devastadora e os sintomas surgem, instantaneamente, em consonância.  E não há ofensa maior do que lhe dizerem que não tem nada, como se atrevem?! A pontadinha nas costelas, insidiosa revela, com toda a certeza, um mal súbito  cardíaco , a dor na base da coluna é um cancro nos ossos, o mau estar de estômago esconde um aneurisma abdominal! O hipocondríaco gostaria que, da varanda da sua sala se avistasse a porta das urgências para sondar a movimentação dos doentes e assim saber qual a melhor altura para visita-la, uma vez que o hipocondr
Nada como as idas matinais para a escola, pela estrada das freguesias, até São Sebastião para me assaltar todo o tipo de pensamentos, de tal forma que chegando ao destino não dei conta do percurso que fiz. Assusto-me um pouco porque de tão absorta que estava, imagino que, havendo algo a surgir na estrada, me encontro desprevenida para reagir. Quero acreditar que não, que o grau de abstração não é o suficiente para deixar os sentidos embotados aos sinais de perigo. E assim vou pensando, os carros passando e eu no meu caminho. E isso é o que faz o comum das mulheres, quando conduz vai pensando noutras coisas, utiliza o tempo inutil de partir do ponto A para o ponto B para avançar no que tem que fazer mais tarde ou mesmo pensar na vida! Toda a mulher gosta de pensar na vida quando conduz!  O homem quando conduz não pensa na vida, n pensa porque, ao contrario da mulher, leva o acto de condução muito a sério, o homem quando conduz, socializa! É tão importante para ele conduzir como estar
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Procura-se...

   Na penúltima folha do Diário Insular há sempre um cantinho para as meninas que se apresentam na ilha, um cartão de visita, oferecem os seus préstimos, mostram-se disponíveis para todo o tipo de sonhos e anseios. Confesso que acho mais graça a estes anúncios porque, apesar de pequenos são criativos e abrem espaço à criatividade de cada um, do que aqueles imensos artigos de opinião sobre assuntos enfadonhos, sensaborões e bastas vezes inúteis. Estes são os últimos que leio depois de passar revista aos restantes, o obituário incluído. Leio-os meia a contragosto com a mesma vontade e o espírito com que leio os rótulos dos shampoos quando me esqueço de levar uma revista para a casa de banho. Leio-os porque não tenho mais nada para ler, a compulsão da leitura tem este defeito, marcha tudo, o que é bom e o que não presta. Mas os anúncios das meninas não: são pequenos e não dão seca, de mensagem carinhosa, promovem a interação sem pressas e fazem o serviço completo. Têm carnes e seios fart
   Há gente de coluna vertebral de tal forma flexível que consegue cheirar o próprio rabo e sendo assim aguentam qualquer merda, engolem sapos atrás de sapos porque quando deviam soltar verborreia, encolhem-se e na sua pequenez limpam as armas para mais tarde, quando o inimigo está de costas. Propagandeam-se como arautos de um carácter irrepreensível, donos de uma conduta moral sem mácula, gente de fibra e de substância, de valores sólidos e fidelidade inquestionável. São conciliadores, nunca dizem uma palavra que ofenda, nunca têm que pedir perdão a ninguém porque na sua condição de alma impoluta, nunca ofenderam ninguém, desiludem-se todos os dias com os seus semelhantes que, fracos, imperfeitos, irreflectidos, pecam constantemente por actos e omissões e sempre contra si. Relevam constantemente essas ofensas, sentem-se bem a levar pancada dos outros, são sofredores por profissão, resilientes na sua dor única. E são burros, muito burros e na estupidez de quem se julga destinado a uma
   Hoje tive um sonho muito estranho, sonhei com aquele palanque absurdo à frente da câmara municipal, aquele que serve, ostensivamente, para complicar a vida de quem vive na cidade. Aquele tal que serve para coisa alguma, esse mesmo. Pois sonhei que havia um tractor seguido de outros, uma procissão de quatro ou cinco tractores daqueles com caixas abertas de grande capacidade; iam a umas quantas explorações agricolas e pecuárias e vinham de lá com um mega presente que depositaram no topo do palanque. Sei que o sonho se tornou muito confuso a partir daí, muita gente a correr em todas as direções, alguém dizia, tirem-me isto daqui que não se pode, outro chamou os bombeiros que vieram com as mangueiras e confusos a pensar que era fogo alastraram a coisa...entretanto acordei e fiquei sem saber o desenlace!

A pena de morte

   Nada como uma noticia fresquinha de um condenado à morte nos EUA acabado de ser executado com sofrimento físico, que é algo que anda a acontecer com alguma regularidade, ou outro tema quente, o tema professor também aquece muito e tem um lugar especial nos ódios do pessoal cá do burgo, dizia eu, nada como assuntos de alguma delicadeza ética para fazer as delicias do povão; podia ser feito um tratamento estatístico, um gráfico simples de barras com os comentários de resposta produzidos em duas horas, que em duas horas já há matéria com fartura. Para o assunto dos assassinos de gente que merece pena capital nesse modelo de país onde se aplica a justiça ao ralenti do " matas, morres" , anos e anos em diferido que é para doer mais, posso assim de repente e grosseirramente arranjar 2 grandes categorias de opiniões: 1º Os eticamente preocupados, anti-pena de morte convictos, que tentam normalmente com argumentos pedagógicos e com algum grau de condescendência e muita, mas muita

O pátio de trás

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Citando....

   Após profundo estudo e aturada pesquisa sobre as citações facebookianas estou habilitada, ainda que sujeita a criticas por discordância da escolha ou da ordem atribuída, a elaborar o seguinte ranking, por ordem crescente de náusea ou aborrecimento: 10º Lugar - Citações de Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama, Papa Francisco ou afins, sem culpa alguma dos próprios; 9º Lugar - Citações sobre cães ou outros animais domésticos ou selvagens particularmente aquelas que dizem que não somos nada comparados com eles, que somos umas bestas quadradas porque os tratamos mal e como deveríamos vergastar-nos todos os dias no local onde nos doí mais (o local escolhido fica ao nosso critério) como penitência pelas nossas, muitas omissões para com eles; 8º Lugar: Todos aqueles posts com ou sem foto incluída em que nos falam no abandono dos idosos  e como tal situação é insuportável. Exemplo: " Não me ligam, não me cuidam, não me visitam! Filho, não se esqueça que um dia, também você va

Prima donna

   De vez em quando acontece... surge alguém desequilibrado! Não há forma de prever, não há sensores  nem indicadores fisiológicos que nos eriçem os cabelos da nuca como forma de aviso ante a desfaçatez; os doidos, os borderlines sociais, os desarticulados do comum bom senso aparecem não se sabe de onde nem porquê,  impõem-se e estrelam enquanto abrimos a boca num espanto; reviram e concentram a atenção em si próprios, num exercício de narcisismo com consequências para os outros, nunca para o próprio, protegidos que estão numa redoma onde não se beliscam, sequer;  fazem estragos e arreliam, constrangem e desgastam, e partem incólumes mas não sem antes, se consumirem em autos de flagelação e pena pungente de si próprios; são os mártires, os desalinhados, os incompreendidos, os iluminados, os de sensibilidade ardente e de franqueza suprema, os que falam e os que escrevem o que querem e quando querem e sobre o que querem, e onde, de tudo o que dizem, se nota delicadeza, ardor, paixão, gé
   Ainda que o termo de raça dentro do ser humano esteja em desuso há quem o faça e que insista nas suas derivações linguísticas mais ou menos preconceituosas   numa tentativa de separação das diferenças mas esquecendo-se que é maior aquilo que nos une do que aquilo que nos separa; e no entanto também eu fico ofendida com certas utilizações da língua em que não me revejo: eu também não gosto que me chamem de branca ou branquela e outras palavras da mesma família; eu não devo chamar de preto a alguém de “raça” negra, por óbvia inexactidão da palavra;  a mim não me devem tratar por branca, por óbvia inexactidão da palavra; é que eu não sou branca da cor do papel assim como o de raça negra não é preto da cor da fuligem, e no entanto sou branca para tanta gente e isso chateia-me; chateia-me por até nem gosto da cor branca, é aborrecida e monótona e só fica bem nas paredes e nos lençóis da cama;  e depois há  esta coisa estranha de pertencer ao grupo dos que não têm cor  em oposição a gent

Está a dar peixe?!

   Foi observado na Silveira mas estou em crer que será igual em qualquer outro lugar; existem dois tipos de pescadores básicos, com algumas variações tenues mas que se enquadram de uma forma geral dentro do mesmo padrão: os pescadores que pescam e os pescadores que pescam coisa nenhuma; e dizendo isto impõe-se algumas correções, desde logo: primeiro, os segundos, se nada pescam, não devem em rigor da palavra serem denominados de pescadores, porque só merece o titulo quem traz peixe para o cesto; segundo, para além de não pescarem peixe também não pescam nada em sentido figurado, ou seja, a pesca para eles é exatamente aquilo que eles não fazem; e no entanto, parece que pescam, nos dois sentidos, peixe e arte; quanto ao primeiro, é lançar o olho para o cesto ou balde ( quando há um ou outro, afinal de contas este utensílio é justamente aquele que estes pescadores não precisam levar para a pescaria, virá invariavelmente vazio); quanto à arte é discutível, esses seres confundem –se com

A praxe no meu ISEF

   Havia um gajo lá no ISEF que assumia a função do mais bera da comissão de praxes! O tipo tinha um corpo franzino e pequeno mas elástico e nervoso; um crânio loiro de cabelo à escovinha de certa inspiração militarista que intimidava. A deficiência em altura compensava com a forma como nos olhava, como aproximava o nariz da nossa cara e no olhar azul que se colava ao nosso. Um sargento de pelotão em potência, um bom actor nessa função de nos amedrontar, os 100 quase-putos do 1º ano do curso de 1985; Lembro-me que foi só um dia que começou por ser de ansiedade intensa mas que cedo acalmou.  O salão nobre recebeu-nos com um grupo deles perfilados no estrado fronteiro às bancadas; todos de ar gélido e  impenetrável. Nós, mavericks acabados de chegar, não sabiamos ao que vinhamos; sabiamos que iriam judiar de nós mas como, não faziamos ideia. Depois de ordenarem que nos descalçássemos só de um pé,  coisa que fizemos foram chamando por nós, um interrogatório à vista de todos, mas nada de

A viagem - IV

9 º Dia - 30/31 de Dezembro de 2013 - New York    Há a Nova Iorque de Manhattan e há a Nova Iorque do Bronx e a de Brooklin e mais umas quantas no entanto foi na Bronx que ficamos hospedados e Manhattan e Brooklin que visitamos. Gostei de quase tudo no Bronx, gostei do nosso anfitrião, o Junior, um rapaz novo extremamente simpático que para além de me ajudar com as malas também nos deu preciosas informações e guardou-nos uma lugar de estacionamento plantando-se no local à nossa espera, à espera que dessemos uma volta ao quarteirão para estacionar no lugar em que esperava. Gostei do clima de bairro seguro sem insegurança visível, gostei do metro que apanhamos, com 99% de negros e hispânicos e 1% de gatos pingados onde nos incluímos. Gostei de encontrar muita gente simpática, solicita e bem educada, gostei de termos destrinçado o metro de Nova Iorque sem grandes problemas. Gostei de regressarmos tarde na noite e não caminharmos em stress como se estivessemos em Chelas ou na Musgueira.