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A mostrar mensagens de 2016

Pensar na vida...

   Pensar na vida...    Há quem o faça no ano novo, com a promessa de um novo recomeço.    Há quem o faça sem promessas, simplesmente pensar na vida.    Eu penso, penso muito!    Quando tinha vinte anos pensava que ia morrer antes dos trinta.    Aos oito anos tinha a certeza absoluta que não ia chegar aos nove. Nunca tinha beijado um rapaz na boca, os beijos que dava ao espelho, que o deixava todo embaciado e babado, não me satisfaziam.    Não ia ter bebés!    Não ia fazer todas as coisa que os adultos fazem! Que imbecil!    Passada a barreira dos nove, estive uns anos ocupada a crescer saudável, a dar cabo do juizo dos meus pais, até que aos 17 anos me deu forte maluqueira: agora é que ia ser, que iria morrer de uma forma horrível.    Desenvolvi um gosto obsessivo por ligar e desligar interruptores de luz, acertar os livros nas estantes por tamanhos e emparelhar os pares de sapatos por texturas e cores.    Saia de casa e entrava em casa uma dúzia de vezes  para me conve

O amigo lambe cus

   Os amigos lambe cus são como qualquer outro lambe cu mas em amigo. São  os  açucarados que, por mais asneiras que se faça nas nossas vidas e nos comportemos como uns perfeitos idiotas, nos dizem que procedemos bem e que nos incitam a continuar. São os amigos que escondem as nossas próprias misérias com receio de que nós ainda não as tenhamos descoberto. São aqueles que passam a outro a inconveniência de dizer que agimos mal porque não querem que a amizade que os une a nós sofra alguma beliscadura. Dá-nos jeito tê-los quando  não conseguimos levantar a cabeça com o peso da merda que fizemos. São o alívio da nossa consciência. É para eles que corremos quando damos cabo da boneca da outra menina e gritamos " Foi ela que começou!" certos que , em vez de nos darem um açoite, nos dizem " não chores pequenita, a outra menina foi má, só teve o que mereceu! "    Os amigos lambe cus são sempre muito nossos amigos e vivem a nossa vida como se fosse a sua própria, pensam

A divorciada

   A mulher divorciada... ...desquitada... ...desemparelhada... ...desirmanada...    É tema sumarento e cheio que derivações, afluentes e sentimentos poderosos. Sem saber bem como começar mas  dado que sou habilitada para falar desta casta tão especial, resolvi ir pesquisar sobre o tema e dei com triliões de blogues especializados  no assunto. São blogues densos, escritos por quem sabe, elas! Eles também poderiam mas faltaria o essencial, o fel.  São tantos que é caso para dizer que em cada blogger há uma divorciada; excepção das bloggers de culinária e de bricolage, essas são casadas, muito bem casadas e o sonho maior das suas vidas é alimentar e vestir o marido e os filhos, com pratos económicos mas saudáveis e roupas amigas do ambiente.  Os blogues sobre o divorcio têm sucesso e muitas visualizações, só são batidos pelos blogues especializados em unhas de gel e depilação com linha, porque giram em roda de dois subtemas: o quão maravilhosas as mulheres divorciadas são

Alegrias de quem ensina

   Já desesperei a explicar a um aluno que me disse "as pessoas têm o direito de dizer asneiras, se quiserem" que a sua afirmação é falsa; já testei a minha paciência a explicar a outros que não podem andar a roçar-se uns nos outros só porque estão a descobrir a sexualidade e o seu impulso primeiro é o de concretizarem o que apetece no momento; não é aceitável, meus caros, roçarem os vossos órgãos genitais no rabo de colegas do mesmo sexo ou outro. Assim como não é aceitável coçarem os testículos e puxarem o pénis para o lado porque ficou preso na cueca e o mal estar é grande; nunca é tão mau  quanto quem tem que assistir á cena. Não quero passar pelo corredor da minha escola e ter que assistir à introdução da língua do gajo na faringe da gaja. Dispenso que um rapaz de 15 anos refile, durante a aula, com um colega porque " acertaste-me com a bola nos tomates" e muito menos me agrada que o a resposta seja "sacode que isso passa". E ir na paz no Senhor e v
 "Então pá, define-te lá, anda?! É verdade que o melhor da vida de qualquer mulher começa depois dos 40?! Que é nessa altura que estão maduras sem terem perdido a frescura e muito, mas muito mais marotas do que as verdes vintonas e as insípidas trintonas?! " Pfff, quem te disse isso anda em negação! Meu amigo, com a algibeira vazia, o cabelo a esbranquiçar, as peles dos braços a abanarem como pelancas velhas, estamos aqui é a desejar o consolo de chegarmos à terceira idade, porque aí estamos velhos e ninguém quer saber se estamos velhos e as pelancas dos braços são as pelancas dos braços que os velhos têm e os filhos há muito deixaram de ser os adolescentes egoístas e agora são só adultos e egoístas e os adultos não nos arruínam o orçamento. Enquanto adolescentes despejam o nosso frigorífico a horas pontuais, semeando esqueletos de maças roídas por baixo das almofadas dos sofás e cuecas sujas entre a porta da casa de banho e o cesto da roupa suja. Dizem-te que não perceb

De avião...

   Uma hora antes de entrar no avião toma um calmante. Quando vislumbra o bicho  dá-lhe a primeira contractura cardíaca, sente piquinhos nas unhas dos pés e eriçam-se os pêlos do corpo. Respira fundo e pensa mais uma vez, que não se aguenta de tão parva. Senta-se no seu lugar, não sem antes fazer o primeiro reconhecimento do local, a ver qual a melhor forma de fugir, se pela frente, se por trás. Abre pela primeira vez o livro com a descontracção total de uma tipa a ferver por dentro. E começa os raciocínios, aqueles retorcidos que qualquer verdadeiro fóbico elabora com requinte. Olha disfarçadamente os companheiros de viagem a ver se vislumbra neles, indícios de quem espera, não tarda, a sua ultima hora. Se encontra alguém que conhece sente-se safa, agradecida, permite-se respirar um pouco melhor durante um breve momento. Homens a ler jornais ainda melhor, quem lê com tanta desfaçatez perante tão grande perigo, só pode ser um vencedor e não é ali, naquela casca de lata, que encerrará
   Um dia típico de aulas da escola publica dos últimos anos é um dia em que, por mais criativa e susceptível de elaborares cenários que sejas, nada te prepara para a singularidade rotineira de cada tempo de aula. Vais armada da tua maior e quase inesgotável paciência e numa espécie de fatídica inevitabilidade enfrentas cada hora com a perseverança dos bravos ou dos loucos, de acordo com a perspectiva. Surpreendes-te, no final, que ainda te mantenhas sã e capaz de um raciocínio lúcido e critico. Passas uma esponja pelo assunto ainda que não esqueças para que possas, no dia seguinte voltar à batalha de nervos e palavras e acções e saíres inteira no processo. No final de tudo, do mês, do ano, da década, curiosamente, ainda acreditas que ajudaste na mudança de algo, de uma visão, de um desabrochar de alma, de um despertar de mente, de uma luz , de uma escolha para a vida.     Caminhas para a última aula do dia, vens cansada e anseias por esticar as pernas, libertar-te das sapatilhas,