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A mostrar mensagens de abril, 2019

O cinto

   Quando nasci a minha mãe tinha 42 anos. O meu pai também! Antes de mim e da minha irmã, tinha havido outro filho que morrera. Desde que me conheço com capacidade para pensar, me dei conta, no meu entendimento de criança, em que tudo parece sobre dimensionado e o mundo é visto com uma importância gigantesca, que o meu irmão morto, antes que ambas tivéssemos nascido, era um ser perfeito e que morreu nessa perfeição sem mácula. Tinha nove anos.     Foi em Lourenço Marques. Quando tomei consciência de que o mundo não é um lugar sempre seguro e sempre bom e sempre pacifico e sempre prazenteiro, foi-me dito pela minha mãe, com sofrimento na voz, que a dor sentida por ela, permanecia e sempre a acompanharia até à sua morte. A imagem que guardo dele é a de um ser intocável na sua perfeição: excelente menino, obediente, alegre, muito amigo de sua mãe e um excelente aluno. Era assim e nestes termos que éramos convidadas a reverencia-lo, ao mano. O nosso mano vivia nas fotografias da sala e