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Vizinhos fofinhos

   Quem já viu o filme Duplex com a Drew Barrymore e o canastrão  do Ben Stiller, um filme que conta as peripécias angustiantes de um jovem casal a braços com a vizinha do andar de cima que lhes torna a vida num inferno? Viram? Pois se viram, é ou não é desesperante e digno de dó todo o sofrimento que aquela frágil velhinha de quase 200 anos, tão aparentemente fofinha mas tão ruim, consegue infligir nos dois? Apetece ou não agarrar-lhe pelos pés e pô-la a rodar tipo lançamento do martelo e lança-la pela janela? A mim apeteceu-me e se me atrevo a ver novamente o filme, fico logo irritada e a hiperventilar.     Pois é, eu afirmo solenemente e sem sombra de exagero que, na minha vida e no andar de cima, não existe uma frágil velhinha mas dois velhos, cheios de saúde e veneno a infernizar-me a vida. A rua da minha casa tem, umas 30 habitações de cada lado, umas de dois pisos e as outras de piso único. As contas, feitas por alto, darão umas noventa famílias. Todas essas famílias me par

O cinto

   Quando nasci a minha mãe tinha 42 anos. O meu pai também! Antes de mim e da minha irmã, tinha havido outro filho que morrera. Desde que me conheço com capacidade para pensar, me dei conta, no meu entendimento de criança, em que tudo parece sobre dimensionado e o mundo é visto com uma importância gigantesca, que o meu irmão morto, antes que ambas tivéssemos nascido, era um ser perfeito e que morreu nessa perfeição sem mácula. Tinha nove anos.     Foi em Lourenço Marques. Quando tomei consciência de que o mundo não é um lugar sempre seguro e sempre bom e sempre pacifico e sempre prazenteiro, foi-me dito pela minha mãe, com sofrimento na voz, que a dor sentida por ela, permanecia e sempre a acompanharia até à sua morte. A imagem que guardo dele é a de um ser intocável na sua perfeição: excelente menino, obediente, alegre, muito amigo de sua mãe e um excelente aluno. Era assim e nestes termos que éramos convidadas a reverencia-lo, ao mano. O nosso mano vivia nas fotografias da sala e

Vais fumar droga?!

   No último dia de Fevereiro, o meu filho mais novo despediu-se na mim, na saída para a escola, com um: " Vais para onde, afinal?!", isto depois de lhe ter dito, pelo menos, umas 1568 vezes que ia dar um giro pela Holanda.    " Ah, Holanda! Vais fumar droga?" .    " Vou tentar!".    " Boa sorte!".    E pronto, foi o que se conseguiu de conversa no pequeno percurso para a escola, onde invariavelmente, ele me brinda com uma selecção musical que eu não pedi mas que tenho de aguentar, segundo ele para meu enriquecimento cultural das novas tendências.    Há 30 anos se eu perguntasse à minha mãe se ia fumar droga  na Holanda levava um par de estalos. Há 40 anos eu não sabia que se fumava droga, ponto! De resto, e quando soube, nunca me passaria pela cabeça ter qualquer tipo de conversas desse teor com a minha mãe, com o meu pai, então, seria uma espécie de suicídio assistido. O máximo a que a minha irreverência juvenil chegou foi perguntar-

Retratos de mim pela Margarida Quinteiro

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