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A mostrar mensagens de janeiro, 2013

O Síndroma de Março

    Aproxima-se a data anual mais stressante da minha existência, aquela que corresponde a três ou quatro semanas nas quais tento encontrar predisposição mental para organizar a informação necessária ao preenchimento da declaração do IRS. Enquanto não me sento com a papelada ao lado e me compenetro de que não consigo adiar mais e que agora mesmo é que se vai fazer a coisa, passo dias de angustia e preocupação com a nítida certeza que não conseguirei validar a declaração e ultrapassar mais uma vez o obstáculo. Não que tenha nada a esconder de verdadeiramente gravoso,  talvez só mesmo aqueles dois anos seguidos em que incluí os meus cães e gatos como fazendo parte do meu agregado familiar e sendo assim as despesas do veterinário contaram como despesas de saúde, mas reparem, se virmos bem, é justo que o tenha feito; afinal de contas eles são da nossa família e as contas do veterinário são bastas vezes muito superiores às contas do médico do humanos; no entanto, fazendo nós mais do que o

O meu sono das quintas

 A alvorada cá em casa é as 7:00 da manhã para fazer as coisas com alguma pachorrência ( palavra inventada agora, é gira no entanto, uma mistura entre pachorra e paciência e serve o propósito) , 7:20 se acaso acordo em negação; nesse caso, esses vinte minutos servem para maldizer a minha pouca sorte e inventar esquemas mais ou menos exequíveis para calar a consciência caso me resolva a adormecer novamente. Naturalmente, o meu ser responsável prevalece mas naqueles 20 minutos sinto-me quase uma revolucionaria subversiva.     A quinta-feira é um dia muito simpático para mim! Nem preciso ficar os vinte minutos a martirizar-me, levanto-me num ápice porque sei que, depois de os levar à escola, em 10 minutos estou em casa e tenho duas horas certinhas para dormir novamente. Nessa manhã o edredon fica num montinho, as almofadas vão para lá também para manter a cama quente; as calças de pijama vão passear até à escola, enfio um casaco mais ou menos a disfarçar, como se estivesse vestida de

As festas da Ilha Terceira segundo o ponto de vista de uma quase estranha mas em perigosa condição de o deixar de ser

   Na ilha Terceira festeja-se muito! É um facto indesmentível. Os terceirenses são famosos pela sua vertente pândega, pela atracção indómita para o prazer! Gerem a sua vida não segundo as estações do ano ou as semanas de trabalho mas de acordo com as festas! E quando pensam em semanas de trabalho é para afirmarem com um brilho nos olhos " faltam 3 semanas para o início das touradas à corda" ou " daqui a um mês vou encomendar os meus sapatos para as marchas".  E há festas com fartura que aplacam  o terceirense na sua ânsia de divertimento. O terceirense de gema tem também uma visão de futuro, vê sempre mais à frente, no caso e dando um exemplo que se perceba, se está nos festejos de carnaval e imbuído até ao sabugo na organização e no espírito da coisa, uma parte de si, pensa já,  nas marchas das sanjoaninas. Não tem uma visão redutora, pelo contrário, está sempre à frente no seu tempo. De tal forma é assim que um terceirense que se considere puro senta-se para alm

Maionese de gambas

   Incrível mas verdade: a única nostalgia, na verdade não posso falar em saudades, deixada pela Escola Tomás de Borba é o seu parque de estacionamento: belas sonecas que tirei ali  na zona encostada ao muro, de frente para as lagartixas autóctones,  muito mais simpáticas que a maioria dos professores, meus colegas. Bem de costas para a chegada do pessoal para  ter possibilidade de dormir de boca aberta e poder  babar-me  à vontade. Todos os dias passo por ali e aquele cantinho, ali mais reservado, dá-me ânsias.  Ainda por cima passo por lá muito cedo e só entro na minha escola quase uma hora depois, no entanto fico a pensar que não seria bem aceite, ficar por ali a dormir meia hora para depois pisgar-me, iria possivelmente dar nas vistas; o meu carro, a versão azul do carro do pão é o único na ilha, toda a gente sabe onde estou, é uma treta. Já considerei mudar de carro, ocorre-me que este motivo é o mais forte que encontro até agora para fazer a troca. Um renault clio possivelmente,

Coisinhas de homem deprimentes

Cena deprimente número 1:     Uma festa, com potencialidade para ser uma grande festa, música boa, uma playlist ( como se diz agora) susceptível de agradar a todos, se não em todas as músicas, em grande parte delas e o que acontece depois? Tirando dois ou três homens esforçados, homens sedutores que dançam no meio delas, homens que as agarram e as conduzem, os outros, desaparecem para as comuns trivialidades, fumar e beber e embrutecerem-se ainda  mais . Elas, lindas e  disponíveis  para uma das artes mais bonitas e antigas de sedução e que, contrariamente a muitas outras, não produz um aumento significativo de casos extra-conjugais, eles, amorfos e especialmente burros, incapazes de perceber quanto uma dança é sedutora e aproxima. Há acaso maior demonstração de virilidade, um homem que nos leve para dançar, dançar a sério, agarrar em nós, manobrar-nos e arrebatar-nos com poder másculo, conduzir-nos em todos os passos e em todas as direcções?  Pergunta-se a qualquer uma de nós o q

A filha de sua mãe

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O meu amigo da Urbana

   Há um motorista de autocarro nesta terra com quem tenho uma relação de amizade muito especial: nunca o vi para além do seu assento no autocarro, nunca trocámos uma simples palavra nem sei se o faremos alguma vez, no entanto, todos os dias nos cumprimentamos e mais,  sabemos que esse ritual nos é querido aos dois. De manhã na ida para a escola, em São Sebastião,  sei que o encontrarei ali, para as bandas do Porto Judeu, na estrada regional, na sua possível primeira vinda da carreira da Praia da Vitória -Angra do Heroísmo e à tarde, na vinda da escola, se não me atrasar ou tiver reunião sei que é provável, quase certo que nos cruzaremos entre a Ladeira Grande e o início da Ribeirinha quando ele faz mais uma das suas carreiras no sentido inverso. Quase aposto comigo própria onde o encontrarei, se acaso se atrasa, abrando um pouco e é quase certo que nos cruzaremos no sitio do costume, que é assim que tem que ser. Nessa altura, um grande sorriso no rosto de ambos, quando ele vem mais d
   Ontem caí na asneira de me meter numa discussão a qual já deveria saber, à partida, não iria chegar a lado nenhum! Foi mais uma daquelas discussões onde nada de muito profícuo transpareceu. Cada um a ouvir para o seu lado e ninguém a ouvir ninguém, como normalmente sucede em qualquer discussão. A teoria de que a discussão franca, argumentativa e equilibrada é útil a todas as partes porque permite alargar os nossos próprios limites é uma treta; ninguém tem abertura de espirito suficiente para permitir tal quando já formatou a sua cabeça para as suas conclusões sobre os assuntos.  Ninguém está interessado em ouvir a mensagem, preocupa-se em descodificar as implicações para lá da mensagem, o que surge por detrás, o que se insinua com os sarcasmos, as entoações, as pontuações, o que não está escrito mas o que transparece. E com essa distração, a mensagem propriamente dita não passa. E é uma treta porque após 5 ou 6 impressões ditas ou escritas já se derivou para questões paralelas que

Minerva

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   Hoje é um dia triste! A minha cadela Minerva, grande amiga, morreu! Com  12 anos de vida canina correspondente a, segundo a veterinária, 70 anos bem medidos foi uma cadela que viveu a vida em liberdade, sem trelas nem correntes, sem grandes mordomias também. Era um animal robusto, sobreviveu a um atropelamento inacreditável sem uma única beliscadura a não ser um susto monumental e caiu duas vezes de uma altura superior a 5 metros sem ter partido, deslocado, arranhado ou torcido uma pata. Perseguiu e comeu galinhas quando jovem, momentos de uma adolescência excessiva que com o tempo se foi acalmando. Perfilhou, mimou e amamentou um gato recém-nascido, o seu corpinho maternal criou leite para aquela bolinha de pêlo. Teve a sua primeira gravidez já em idade madura que terminou mal para uma cria e julgo eu, condenou para todo o sempre, o seu único filho, o inefável Gastão Elias a uma condição de borderline com défices de atenção irremediáveis. Nos seus tempos áureos governou o quinta

Bisbilhotice vs Maldicência

   Deixem-se de tretas: qualquer um de nós, por mais elevados sentimentos que tenha, aprecia, mais, pela-se por uma boa cusquice e se houver pormenores sórdidos com assuntos de cama à mistura, melhor! E a piada toda é que o boato, a história, os pormenores vão sempre crescendo,  refinam-se, os detalhes aprimoram-se, sempre que passa por mais um receptor, a história enriquece com um pormenor de inteira responsabilidade do emissor! E há tanta gente criativa, tão mal aproveitada. Quando alguém cusca, bisbilhota, ou agarra na bisbilhotice que ouviu, torna quase sua aquela vida, apodera-se dela e renova-se um pouco. Cusca-se para afastar a solidão, o mundo doi nós nele sozinhos, bisbilhotarmos a vida dos outros aproxima-nos, aquece o vazio do espaço que nos separa dos outros.     Dizer mal é mais refinado, mais requintado, menos inocente!     Quando nos zangamos com os amigos, quando entramos em bate-bocas com quem nos quer bem, normalmente ninguém se entende nos argumentos, somos irra

Como quem muda de camisa...

    Reza a história que quando eu nasci já a minha mãe tinha vivido em 17 casas. A minha mãe tinha 42 anos quando me teve, o que dá uma média de 2 anos e quatro meses por cada casa; sabendo que, viveu muitos anos na sua primeira casa, a casa dos meus avós maternos, isso quer dizer que andou a saltitar pelas outras como quem muda de camisa sem sequer aquecer o lugar. Após o meu nascimento ainda umas quantas casas se têm que acrescentar ao seu currículo mas nada parecido com a rebaldaria da sua primeira idade adulta. Hoje acordei com esta percepção inquietante que de há uns tempos para cá, ando em mudança constante, não que essa realidade seja muito afastada de todo o meu percurso de vida mas a constatação que, chega uma altura, é tempo de parar, literalmente!     Vejamos: Nascimento / Dois anos e meio :  1ª -  casa-mãe ( Sobreda da Caparica); Dois anos e meio / Sete anos e meio: Moçambique: 1 ano - 2ª - Apartamento em  Lourenço Marques; 4 anos - 3ª - casa na Beira; Dos 7 ao

45 anos

   Dia 21 de Março faço 45 anos! Ena, tantos já e no entanto tão rápidos a chegar. É um facto, a partir dos trinta é sempre na curva descendente, no entanto não se nota ainda. Aos quarenta e cinco a história é outra. No meu caso particular consigo observar em que medida estou a ficar velha pela  capacidade ou falta dela em fazer aquilo que me dava ( e ainda dá) gozo. Os flicks à rectaguarda em cima de cimento é história que já não se repete, poderia ainda tentá-los mas a possibilidade de me magoar a sério crescem exponencialmente. Há 5 anos anos atrás, insisti que iria recuperar a minha forma física e capacidade de fazer ginástica esquecendo que a agilidade, a plasticidade e a capacidade de recuperação do meu corpo já não serem os mesmos. Meti na minha cabeça dura que iria fazer novamente a rodada/ mortal nem que para isso me esfrangalhasse toda. Fiz, pois fiz mas custou-me uma entorse no meu tornozelo de estimação, aquele que dei cabo com 15 anos a experimentar uma nova forma de abor