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A mostrar mensagens de julho, 2012

A minha mãe

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       Um mês passou.    A minha mãe morreu num dia ameno de junho, o dia 19, nesta cidade de Angra. Era uma ténue sombra de si própria, um regresso progressivo e inexorável à sua primeira infância. Fisicamente definhou, tornou-se mais pequenina, perdeu a capacidade de falar, de se alimentar sozinha, de se alimentar depois. Eu era a senhora má ou a senhora boa conforme a sua disposição. Na minha condição de filha assumi a figura de sua derradeira mãe.    Preciso da minha mãe! Quero-a a reconfortar-me, a mimar-me, a limpar-me esta ferida, quero a minha mãe a passar-me a mão pelo cabelo e a dizer-me que está tudo bem! Quero que a minha mãe seja minha mãe outra vez!    São nove horas da noite, uma necessidade enorme de escrever sobre ela; quero que o tempo pare e que retroceda! Que retroceda a momentos em que era ela, a minha mãe, a fazer de mãe, que é para isso que as elas têm de servir, para nos socorrerem nas nossas aflições, abraçarem-nos quando acordamos com pesadelos, fazere

Fim de semana em São Jorge - Calheta

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   Experiência engraçada esta de andar num barco semi-rigido para fazer o percurso entre ilhas! Ao nosso grupo de marchantes calhou o barco do João Medeiros, conhecimento de há 30 anos. Muito bom rever este colega antigo e desde já, muito menos atrevido como quando implicava comigo no liceu!    Foi um fim de semana relâmpago mas cheio de graça e acção, marcha, banhos de mar de madrugada, concertos de grupos locais com muito interesse, uns shots de vodka e absinto poderosos, convívio super saudável entre gente descontraída e boa onda. Naquele grande grupo seria porventura a 5º pessoa mais velha, andava tudo no inicio dos trintas, finais dos vinte!    Sem transporte e sem tempo ficamo-nos pela Calheta mas ainda deu para um passeio a pé até ao parque de campismo da Calheta e fazer uma visita rápida ao cemitério da vila.

A Tasca do Venâncio

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    Quando me instalei na casa número 5, desde logo me agradou uma data de coisas: o sino da igreja, os ruídos dos carros lá longe, o som de uma  tampa de esgoto meia solta quando passada por cima por um carro,  os ruídos dos passos das pessoas a descerem a minha rua, a balbúrdia de sons na Tasca do Venâncio logo ali, ao virar da esquina. Sempre que por lá passava me luziam os olhos, o ambiente descontraído, a montra cá fora com as flores e as frutas a atrair clientela, a risota pegada, algumas discussões mais acesas. Ontem a pretexto de não querer fazer almoço e sendo o aniversário do Gui, decidi irmos almoçar à tasca. Pedimos bitoques de novilho mas fiquei a salivar na visão de um cântaro grelhado de ar suculento. Ficará para a próxima, a minha carne estava saborosa e as socas de milho muito docinhas. A cozinheira é uma 'pontalhona', como se diz cá na terra, de língua afiada, resposta pronta e olhos sorridentes. Quem entrar nesta tasca armado em fino e de nariz empinado, o m

A vigiar...

    A distância para percorrer uma largura da sala onde me encontro a vigiar um exame são 11 passos dos meus, ligeiramente menos que um metro por cada passo, a um tempo inferior a 1 segundo por passo. Sei o tempo porque tenho o relógio da sala a martelar-me a cabeça, naquela cadência exasperante, audível o suficiente na sala silenciada, entrecortada pelo virar de páginas ou pelas fungadelas ocasionais mas invariavelmente presentes dos alérgicos de serviço. Os 11 passos que vou teimosamente vencendo prolongam-se por mais de uma hora e meia, espremidas que são todas as derivações desta rotina. Em contas ainda que grosseiras, conto que dê 66 passos por minuto, 3.960 passos por hora, 5940 em hora e meia, alcançando cada parede com o mesmo pé, rodando sempre da esquerda para a direita e usando sempre o pé direito como pé eixo. Esta rotina aproxima-me misericordiosamente de um estado catatónico que alivia do aborrecimento. O meu cérebro cumpre apenas os serviços minimos, só uma parte dele s