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   Era uma vez alguém que se casou. Foram muito felizes até um dia. Um dia a coisa descambou e ela fugiu dele e ele não quis. Fez-lhe a vida negra. Ela é a Arminda e ele o Maurício. Ao Maurício não lhe apeteceu que a frase " e foram felizes para sempre" terminasse e foi atrás dela a fazer cenas e a rebentar pneus do carro do Justino que veio a ser o novo namorado da Arminda, a ver se se esquecia do pesadelo do Maurício. Mas a modos que o Justino era um pouco para o amalucado e se bem que à Arminda lhe apetecesse arejar do casamento maluco não lhe apetecia logo de chofre outro maluco ainda que de uma forma diferente de maluqueira. Aproveitou o Justino mais um bocadinho e depois, porque há limites para o que uma mulher consegue aguentar, mandou o Jaime ir fazer disparates para outro lado. O Justino foi porque o Justino é uma pessoa que se ajeita muito bem às circunstâncias e gosta de ver toda a gente feliz à sua volta. No entretanto, o Maurício que não é de se ficar e porque a

Dalila

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   Morreu a Dalila!    A Dalila chegou um dia, vagueando por essas estradas da ilha, uma vadia pura, alma de cigana, cadela de muitos recursos, não aparentava desespero ou inquietude, simplesmente andava por ali, a apreciar a caminhada. Entrou no carro após ter sido convidada, sem receios ou hesitações. Veio para casa e ficou até a porta se abrir e aí saia para caminhar e não voltava. Tinha que se  ir buscar que a Dalila não era cadela para voltar para trás. Nunca foi nossa, simplesmente transigiu em ficar connosco. E ficou quatro anos!     Nascida em data e parte incerta, meiga, muito zelosa do seu prato de comida, um certo mau feitio na defesa da sua gamela e em podendo, da gamela dos outros, Doce, equilibrada, paciente com a gata Sissi, as sirenes das ambulâncias e a estridência dos sinos da igreja das tardes de domingo, deixavam-na descomposta e aí uivava, uivava com toda a força da sua alma primordial. Era só aí que esboçava um som e quando ouvia a saca de ração a ser remexid

Serviço Público

   No site da TAP, fazem-se os procedimentos para ver preços de passagens para o filho estudante, partida que se tenta seja, desde inícios de Setembro até inícios de Outubro, e enquanto se espera, a ler que "todas as tarifas TAP incluem jornais e revistas gratuitos" (para mim podem enfiar os jornais e as revistas no cu, desculpem a acidez), aparece "Não foram encontrados resultados para a sua pesquisa. Por favor, modifique os seus critérios de seleção e tente novamente". Tenta-se novamente e outra vez e espera-se e desta vez é a bagagem que que é gratuita e apetece mandar a bagagem gratuita para o .......Experimenta-se para residentes e os resultados são os mesmos; nenhum! Pagas o mesmo que toda a gente e não bales! Vai-se ao site da SATA, querida SATA que és nossa, faz-se a mesma pesquisa para estudantes e pode ser uma data flexível, somos tão flexíveis, caraças! Põe-se uma data a rondar a que se deseja a ver o que sai; ora vejamos, uma data em Setembro com regres

O Caga-na-saquinha

Há expressões poderosas, algumas facilmente entendiveis na sua forma e conteúdo e outras nem por isso; umas quantas, se as dissecarmos, palavra por palavra, parecem-nos absurdas e no entanto, aplicam-se maravilhosamente bem. A "caga-na-saquinha" é daquelas indecifráveis na forma mas que se aplicam, em pleno, a certo tipo de pessoas, aquelas que não conseguimos definir melhor senão dizendo que, são os verdadeiros "caga-na-saquinha". O tipo "caga-na-saquinha é  medroso, tristonho, injustiçado pela vida, pelos outros, pelo estado do tempo, pelo carro que furou o pneu, pelo cão que lhe alçou a pata, pela namorada que foi apanhada na cama com outra, na sua cama, o Calimero dos tempos modernos que diz compungido " It's an injustice, it is!" Aquele que, quando se lhe aperta o esfincter para o inevitável  e está a céu aberto com o cu a roçar a erva fresquinha, pensa que será uma grande injustiça, logo com todas as probabilidades que, logo ali, que tanto

O presidente da junta

Tive, hoje, uma conversa muito profícua com alguns alunos de uma daquelas turmas ‘especiais’, alunos de 16 anos, com um historial de insucesso recorrente e desajustados do mundo escolar. Alunos que invariavelmente se esquecem do equipamento para a aula, alunos que por vezes vêm as aulas e por vezes não vêm, é quando lhes apetece ou quando os obrigam ou ameaçam com a proteção de menores. Sentei-me um momento junto deles e a conversa entre nós foi fluindo, eu no meu sermão de cátedra, pela sexagésima oitava vez, não muito inspirada, concedo que tê-los ali, na sala, junto a mim já é uma vitória, eles com a correspondente desculpa da praxe. Vai daí, sem combinarem começam os dois, um rapaz e uma rapariga a fazerem-me perguntas: Quantos anos tem, tem marido, e namorado, quantos filhos, com o à-vontade e a condescendência com que, por vezes, nos tratam, como se os putos fossemos nós. Um outro, aproxima-se e curioso com o correr da conversa lança como que orgulhoso: “Professora, já teve a

Curtas da escola

        Conversa com a minha turma maravilha, última aula da semana, sempre animada de uma forma retorcida. Ginástica de aparelhos: Meninos, lembram-se do nome daquele aparelho? Uma espertalhona: cavalo! Outro, frenético: Égua! O terceiro, a descambar ainda mais: Mula! A este, baixinho e franzino, pego-lhe pelos colarinhos, encosto o meu nariz ao dele e com o tom mais intimidatório que consigo, digo entre dentes: Boque! E o artista sem desarmar: Reboque? Cá nada, não vejo nenhum engate!    Tenho nas minhas aulas um combate permanente com os alunos no que concerne à utilização correcta da língua portuguesa e à terminologia própria das modalidades desportivas. Na ginástica, outro dia insistia com uma aluna que dizer " abrir às pernas" ou " pernas abertas" era uma forma muito deselegante de falar pelo que pedi um verbo sinónimo e mais bonito de s e  pronunciar ao que esta aluna respondeu prontamente " esgaçar, senhora professora!"    Tenho pouc

A palavra às crianças: retratos de uma professora

                                                                     I Capacidade de atenção de uma turma do 5° Ano: Pessoal, vamos jogar o jogo da mosca ( jogo infantil/tradicional). A mosca é o último a saltar e define o comprimento do salto seguinte. Dois minutos depois um aluno " professora, posso ser a formiga?" " a mosca, a mosca" respondo. Mais dois minutos depois, outro " quero ser a abelha" " a mosca!" " ai pois é a mosca!" Mais à frente, um terceiro: " agora sou eu o mosquito!" . " ok, pessoal, afinal de contas não me posso queixar de falta de criatividade: podem ser o que quiserem! " II Na aula, uma turma do 5° ano, exercícios de progressão para o salto em comprimento. Um artista daqueles com resposta na ponta da língua, atrapalha-se na chamada (impulsão) antes do salto, várias vezes. " Meninos, chamada a dois pés ou a um?" resposta em coro " a um" " foi o que o voss
   O ego desmedido de algumas pessoas deixa-me desconfortável! O embaraço alheio que custa tanto a suportar porque olhando para aquela pessoa em concreto é como se nos víssemos nela e a possibilidade da figura de urso que faríamos acaso fossemos atraídos para tais desmandos de vaidade. Tal  como escarneço de todos os falsos modestos, os que tendo talento o sabem como ninguém e se envergonham quando, os outros, os enaltecem como devem e merecem mas, porque lhes disseram que os feitos concretos e louváveis não são de se apregoar aos quatro ventos, mantém uma postura de recato quando por dentro temem explodir de auto-jubilo. E no entanto, prefiro de longe um egocêntrico declarado, assumido e insuportavelmente pedante a um egoreprimido que se vai enchendo de soberba mal contida enquanto ruboriza a cada elogio e encolhe os ombros dizendo. " Palavra, não sei donde vem este talento. É intrínseco mas não vale a pena fazerem tanto burburinho! Eu sou assim mas por favor não digam isso alto

Curtas

   Num passeio noturno passámos, ali pela rua de Santo Espírito, por um grupo de turistas portugueses já entradotes na idade, ruidosos e bem dispostos. Cruzamos-nos com eles em frente da GNR, indo estes na direcção do Pátio da Alfândega e um deles, conhecedor, ia dando indicações quando se ouve uma senhora perguntar com aquele tom meio enjoado com que alguns, os das cidades grandes usam para falar da província:" Mas afinal de contas aquilo ali à frente é rio ou mar?". Pensei res ponder-lhe que era o rio Guadiana mas mordi a lingua pelo que lhe disse, ela já de costas " É o Oceano Atlântico, minha senhora, francamente!" Ela seguiu o seu caminho sem se sentir beliscada. Penso que ouvi gente a rir do dito espirituoso da senhora. Lá se foi aquela ideia que eu tinha que toda a gente com idade para pertencer à terceira idade sabia de cor e salteado, rios e afluentes de Portugal e Ultramar, linhas e estações de caminhos de ferro e outras minudências da geografia do nosso
Hoje, numa das minhas aulas, enquanto uns quantos saltavam à corda, uma rapariga de 12 anos, espigadota em altura e veneta, zangada porque um colega a tinha feito tropeçar na corda lançou um “Caralho, foda-se!” automático, dito do fundo do peito, a certeza de que assim fala, naturalmente, no seu dia-a-dia, na relação com os outros. Após o ímpeto inicial e de refilar ao castigo aplicado, veio perguntar-me se podia retomar a aula. Não me apareceu numa postura que fosse de alguma humildade e conciliação. O pedido de desculpas invariavelmente ausente; refilando ainda, gaguejou no tom acima do tom, com que sempre fala com as pessoas, quaisquer que sejam, de que o outro a tinha enervado. A conversa continuou mas num sentido só, comigo a tentar explicar-lhe porque não podia ser esse o caminho, com ela a argumentar que a sua zanga tudo podia, até a agressão verbal, ao colega e a todos os que se encontravam por perto. Tentei mostrar-lhe que cada qual tem que medir os seus actos, porque cada ac
 Não sou terceirence, sou almadense, não sou terceirense mas poderia bem sê-lo; sou almadense porque nasci em Almada e é só. Na verdade, já me sinto uma terça parte desta terra e podem vir dizer que não, que isso pouco me importa. Se eu o sinto, eu sou! E por o ser ou sentir, mais me diverte observar os meus quase conterrâneos, que vão vivendo as suas vidas sempre cheios de uma graça e uma peculiaridade que não encontro em outras paragens. O que observo não vem impregnado daquela sobranceira superioridade com que os do continente observam os nativos, conhecer esta terra desde os meus 10 anos acabadinha de fazer 48 anos, com idas e vindas ocasionais e 11 anos de casa, dão-me estatuto para poder fazer umas criticazinhas sem que daí venha mal ao mundo. Os terceirenses não são rancorosos, ressentidos ou vingativos. E no entanto, estão impregnados de outras tantas características, algumas quase deliciosas de que apetece falar quase com ternura. O terceirense não gosta de andar a pé, anda
Quando nasci a minha mãe tinha 42 anos. O meu pai também! Quando tive idade para perceber, percebi que antes de mim e da minha irmã, dois anos mais velha tinha havido outro filho e que esse filho tinha morrido. Desde que me conheço com capacidade para pensar, me dei conta, no meu entendimento de criança, em que tudo parece sobre dimensionado e o mundo é visto com um tamanho e uma importância gigantesca aos nossos olhos, que o meu irmão morto, antes que eu e a minha irmã tivéssemos nascido, era um ser perfeito, que morreu nessa perfeição sem mácula. Tinha nove anos, idade em que não se concebe que ser humano algum morra. Morreu electrocutado! Tinha nove anos e morreu de uma forma inconcebível. Morreu electrocutado num jardim publico de uma grande cidade, Lourenço Marques, de alguns anos a esta parte, Maputo, Moçambique.  Desde que tomei consciência de que o mundo não era um lugar sempre seguro e sempre bom e sempre pacifico e sempre prazenteiro, foi-me dito pela minha mãe, sempre c
   Sinto-me divertida por este tipo de pessoas de mente neuropsicótica, que não sendo nossos amigos facebookianos, nunca tendo sido e muito menos amigos reais, nos bloqueiam e desbloqueiam ao sabor de uma corrente de humor só por eles explicável! A gente sabe que eles estão mas não estão para nós, como se a nós nos calasse fundo, a circunstancia de eles não nos quererem ver à distancia de uma clique ou nós os vermos a eles por um simples carregar de botão. São tempos extraordi nários estes, não propriamente saudáveis mas nem por isso menos extraordinários! Sinto que, daqui a uns 200 ou 300 anos, o advento do século XXI será estudado em todas as escolas, numa disciplina obrigatória, no domínio das doenças mentais de cariz sociológico para as quais se descobriu, entretanto, uma vacina. Um pouco como a tuberculose ou a raiva, só que de efeitos visualmente menos dramáticos!

O mártir

   De há uns tempos para cá tenho-me detido na tentativa de compreensão de um tipo de gente que se arroga de moralmente superior, gente de irrepreensível comportamento, católicos ferrenhos de moralidade inatacável e por consequência doutorados na critica contundente dos outros, os pecadores por pensamentos, actos e omissões.  Aqueles que cristalizam as suas convicções conservadoras e bafientas com a prática regular dos deveres religiosos e aí param na compreensão dos pecados dos outros, que não querem compreender porque é pecado.    Os outros, os que se arrastam pela lama em que se tornou a sua vida, os outros  que tão dignos de dó e para quem se olha, condescendente, do alto do pedestal das boas práticas cristãs. Os outros que cometem indignidades e vivem uma vida irresponsável disfarçada de felicidade,  pejada de acções inconsequentes e das quais deverão envergonhar-se, eternamente. Umas vergastadas nas costas, umas vestes húmidas cobertas de sal, o sofrimento físico para remissão

O Conas

A expressão " És um coninhas" aplica-se exclusivamente a homens, dizê-lo a uma mulher é uma redundância e não especialmente ofensivo. Aplicá-lo a um homem é outra conversa; nada é mais insuportavelmente irritante do que um homem coninhas. São aqueles seres miudinhos nos gestos e nas ideias, de tal forma herméticos que se inclinam sempre para um sentido e carecem de ginástica mental para penderem, por vezes, para o lado contrário. Há homens coninhas em todos os sectores da sociedade mas é no ensino que eles medram, como cogumelos numa floresta sombria. Os professores coninhas são os mais refinados dentro do género, porque sentem legitimidade no oficio para serem  uns verdadeiros conas. São chatos e compostinhos, seguem todas as ordens carneiramente, não levantam a voz e são sempre delicados. Existem numa proporção de 90% para 10%, sendo que os 10% correspondem a malucos da cabeça, cromos e afins, aqueles de quem toda a gente se afasta nos corredores  e os outros, os a quem di