Festival AngraJazz - a reportagem alternativa

    Terminou o 14º Festival Angrajazz, o meu terceiro, cumpridos sempre os 3 dias do calendário, junto  dos mesmos amigos, a maioria dos quais que percebe mais de jazz do que eu irei perceber, mesmo que me afinque, até ao resto da minha vida. Consigo perceber se a música me diz algo, se mexe comigo, se me faz querer ouvir mais; consigo perceber se os músicos são virtuosos, bons instrumentistas, mas pouco mais. Nessa área não me meto! O que me resta falar, então?! Ai, tanto! 

   Três dias, seis grupos! Sala do auditório, do Centro Cultural de Angra! Mesas dispostas no centro, bancadas a rodeá-las.  O publico feminino, regra geral, vem vestido de forma cuidada, as senhoras de saltos altos e trajes elegantes ainda que não excessivos, os homens normalmente parecem uns pelintras perto delas. Cada vez mais desmazelados! Parece que ninguém acha já importante cuidar-se! Excepções para casamento e batizados em que se exagera ao contrário mas não é preciso muito tempo para que os homens, sempre eles, comecem a desabotoar-se e a andar em fraldas de camisa! Elas, firmes e hirtas, encavalitadas nos seus saltos improváveis e vestidos normalmente apertados demais, e eles o desmazelo instituído.  Uma tristeza! Não admira que já tantas vezes tenha ouvido " não há homens de jeito nesta terra! Empiriquitarmo-nos todas para quê? Quando são jeitosos, são gays, quando não são, são uns broncos!"

Bem, estou a desviar-me do tema; falava do Angrajazz! 

1ª noite, primeiro concerto - Orquestra Angrajazz  dirigidos por Pedro Moreira e Claus Nymark.

   Entraram sóbrios e sombrios, camisas e calças pretas. Um pouco lúgubres acaso não tivesse dado com um daqueles relógios de pulso, de borracha, grande e azul ofuscante, no braço de um musico! Lembrei-me logo do Rumble fish, sabem, aquele filme a preto e branco e  do peixinho vermelho e do Mickey Rooke quando ainda tinha cara de gente! Aquela cebola azulada perseguiu-me durante o concerto todo! Gostei da onda dos músicos, descontraídos, sorridentes, a tocar cada vez melhor! Até eu que sou uma inculta, percebo!

1ª Noite, segundo concerto - Tomasz Stanko Quintet

   Parece que o homem que dá o nome ao quinteto é muito bom, gostei de o ouvir mas andei muito distraída preocupada que estava com os joelhos do homem, com tantos agachamentos, temi que houvesse uma vez que não se levantasse. Qual quê, nunca fraquejaram aqueles pernas canivete com 70 anos de vida! E não houve uma alminha que lhe fosse arranjar um suporte para as partituras que tinha espalhadas pelo chão! 
   Uma menção especial para o gorro vermelho de lã do guitarrista, palavra que achei que mas cedo ou mais não iria aguentar com calor e livrar-se daquele mono! Mais um vez enganada, uma vez só, que eu estava atenta, tirou o gorro, limpou o cabelo claro que estava colado de suor e voltou a por aquele emplastro na cabeça! Por aquela altura deu-me os calores! Ou aquilo é assim mesmo, e este pessoal gosta mesmo é de cultivar excentricidades! Terminada esta exibição tive eu que esticar as pernas, perras que estavam por solidariedade e soltar as melenas ao vento!

2ª noite - primeiro concerto - Rui Teixeira Group 

não houve nada que me enchesse o olho, aborrecidos até na roupa! Nem um gorro vermelho, uma camisa colorida, tiques de expressão, nada!

2ª noite - segundo concerto - The Jack DeJohnnette Group

por esta altura já se estava a prever, mais cedo ou mais tarde,  uma espécie de êxtase colectivo, que se confirmou. Estive mais embevecida e num limbo que me deixou menos atenta às questões mais fúteis da vida mas não posso deixar de referir o saxofonista indiano, excelente por sinal!O visual não podia ser mais aproximado da ideia que temos de um homem indiano: rosto com aquele tom azeitonado, de cabelos luzidios e a eterna camisa de seda que continuamente puxava para baixo. E tocava tão bem! mas tão improvável como seria uma mulher esquimó a cantar o fado... sem sotaque!
   Gostei da atitude quase humilde como registavam os nossos aplausos  com um aceno de cabeça de grande sorriso e do prazer que estavam a ter ali, tocando para nós! O contrabaixista era um ser superior e para além do mais parecia-me o Sidney Poitier, versão velho, o que só pode ser um elogio muito grande... aos dois! 

3ª noite - primeiro concerto - Jason Moran and the bandwagon 

para mim, que não percebo nada, foi o melhor concerto deste Angrajazz! Três virtuosos, simpáticos, a interagirem sempre uns com os outros, onde na minha opinião não houve um instrumento mais importante que os restantes, talvez o piano mas sempre na medida certa, nunca excessivo. Aquela cançao da Billie Holiday, o momento alto da noite, atrevo-me a dizer de foi o momento mais bonito e emotivo de todo o festival! Para além de tudo, inacreditavelmente bem vestidos, todos de camisa branca, imaculadamente branca e engomada, com brio em se apresentarem bem vestidos.

3ª noite - segundo concerto - Orquestra de jazz de Matosinhos

a mim parecia-me terem saído todos de um asilo de loucos, com dois seres a dirigi-los, claramente possuídos  Para além de uma musica que a mim me cansou, estavam  em estado catatónico! Não consegui, tirando a dois, ver um rasto de emoção naqueles rostos fechados! Nunca sorriram, estavam ali a tocar como se estivessem a descascar ervilhas, com a mesma emoção! Um dos maestros andou a ver se caia do palco e deixou-me nervosa durante muito tempo, eu a fazer cálculos se conseguiria lá chegar antes que ele atingisse o chão. Claramente, deveriam ter aparecido na primeira parte e não para encerrar as hostilidades. Nem a piada no final do concerto serviu para disfarçar o desconsolo. Não tiveram encore! Não o mereceram!


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