A ver deus!

   Outro dia tive uma conversa muito interessante e esclarecedora sobre uma corrente muito em voga nos dias que correm, entre gente que tem, entre quase  nada para fazer e nada para fazer, tempo de sobra e não sabe muito bem que outras formas criativas inventar para gastar o seu dinheiro que tem que ser muito.  Falo das festas muito exclusivas e tremendamente caras onde o objectivo primordial é ter sexo, de preferência muito e com muita gente diferente. Uma rebaldaria pegada mas com muito nível! Fui investigar o fenómeno e descobri a empresa principal que se dedica a estas coisas, há outras mas são sucedâneos rascas que não dão estatuto; essa tal de que falo parece que está altamente próspera e com tendência para melhorar ainda mais e toda a gente que quer enrolar-se em grupo mas enrolar-se com estilo, a procura. Palavra de ordem para estas festas: discrição. O pessoal que as frequenta é altamente discreto e deseja anonimato. Mesmo que passe a noite de pernas abertas e de pirilau em riste mantêm sempre a discrição.  Uma condição imprescindível é o uso de uma máscara veneziana! Parece que o anonimato se consegue assim; a discrição e o estilo também!  É facto assente que, por exemplo, esconder o nariz da Judite de Sousa ou o corpanzil do Malato atrás da sofisticação de uma máscara  é o suficiente e ninguém se dará conta de quem é que tem a brincar consigo! Um bocadinho como a história dos veados, que se escondem atrás das árvores e que pensam que desde que não vejam os caçadores, os caçadores não os vêm a eles! Adiante! Lembrei-me da JS como poderia ter-me lembrado do José Alberto Carvalho (a esse julgo até que lhe faria muito bem um tratamento de choque a ver se lhe passa de uma vez por todas a gaguez! Há quem seja despedido por menos!). O dress code para estas ocasiões é tremendamente rígido, homens de fato escuro com ou sem gravata e a senhoras vestido de noite ou em alternativa vestido curto. Afinal percebe-se, o vestido de noite normalmente é longo e como tal de difícil manejo, o vestido curto muito mais maneirinho; é como pôr um jogador de basquetebol a jogar com sapatilhas de pontas de ballet, há que ajustar a indumentária ao fim a que se destina.
   Investigando mais um pouco e depois de ver posts de gente desesperada em sites da especialidade, pedindo, " por favor aceitem-me que eu serei um sucesso" e " como posso entrar na vossa comunidade, já mandei imensos mails e não obtive resposta" descobri que normalmente a confraternização se inicia com uns cocktails e uns canapés leves (que não se deseja que os convivas apanhem uma congestão) ao som de musica clássica ( Mozart parece-me adequado, digo eu). Tudo muito selecto, tudo ainda muito vestido, os vestidos curtos ainda estão no pêlo! Seguidamente, por volta das 17 horas há um briefing obrigatório onde os convivas, munidos das suas respectivas capas com micas mostram as suas ultimas análises e resultados a propósito de todo o tipo de doenças do foro sexual e também de cariz psiquiátrico, não vá deixar-se passar um doido que desate a matar toda a gente a toques de catana e lá se vai a discrição. Todos muito limpinhos, mentalmente sãos, de cores saudáveis dos bronzeamentos a jacto, rostos aliviados, o último obstáculo ultrapassado. A partir daqui é a promessa do paraíso que se revela já ali, bem perto. Um paraíso bonacheirão que parece que deixa fazer quase tudo, digo parece porque para meu desespero, nunca consegui confirmar in loco o que leio e me contam. Parece que já não faço parte do grupo etário dos eleitos, os meus 45 anos fazem-me velha e nestas festividades toda a gente tem que ser bonita, com as carnes ainda no sitio. Estou mesmo a ver o tipo de pressão de volta dos infelizes dos organizadores " Anda lá, mete-me na próxima festa, terás depilação de borla para o resto da tua vida!" ou " tu sabes quem estás a rejeitar?! eu que já arranjei 3/4 das mamas que todos vocês vão andar a apalpar?! Tu não te metas comigo, rapaz!" e lá se faz um jeitinho e lá se veem umas carnes caídas de cor leitosa a destoar com os corpos mais ou menos musculados. O que é interessante nestas festas é que parece que aquela chatice dos preparativos, o aquecimento propriamente dito, a conversa de circunstância poderá ser facilmente ultrapassada, que nisto de quem paga muito quer ser bem servido e a quantidade é mesmo o que importa. Para qualidade arranja-se uma gaja ou um gajo ou os dois e trabalha-se a noite toda nesse sentido; aqui, com tanto por onde escolher, fica mal escolher uns poucos, mais, quase falta de juízo, se se gerir bem o tempo, contas feitas de cabeça rapidamente, se a coisa foi eficiente e não se perderem com grandes conversas que não levam a lado nenhum, avia-se uns quantos e/ou umas quantas e no fim, ainda se arranja tempo para a sobremesa, feita com mais calma! É claro, isto sou eu a conjecturar! Imagine-se as combinações possíveis, quem entende de matemática poderá facilmente fazer um calculo das probabilidades. Não faço ideia de quantas pessoas se reunem para estes convívios fraternos, que é isso que todos são, amigos fraternos, que se reunem para alcançar a transcendência karmica e verem a luz! Serão bastantes, contudo, que a união faz a força e mais depressa ascenderão a um patamar superior, ao ponto zen da sua existência!  Que isto de ver pernas, rabos, mamas e apêndices  em profusão e não se conseguir identificar correctamente a quem pertence cada item deve ser sublime.

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