A Lei de Murphy

   Conhecem com toda a certeza a Lei de Murphy que diz, de uma forma muito resumida, que aquilo que poderá correr mal, acaba por acontecer, da pior forma e no momento mais inesperado! É uma teoria pessimista mas pelo menos é precavida e permite-nos jogar um pouco com a vida por antecipação! Há sinais no início daquele dia de cão que nos fazem ficar de sentidos em alerta: a topada no dedo grande do pé logo pela manhã quando nos arrastamos da cama para fora, o cafeteira do café que nos queima os dedos e se espalha pelo chão, a nódoa na t-shirt preferida, as chaves do carro que desaparecem quando há dez segundos estavam ali mesmo (descobrem-se no frigorífico, obviamente o local mais  provável). O Murphy era um gajo esperto e eu sou muito sua amiga; sou crente absoluta nessa sua teoria e achando que, em alguma situação da minha vida, a probabilidade do azar me vir fazer uma visita é elevada, pego em mim e enfio-me debaixo da cama e espero que passe!
  
   Todo este preâmbulo para vos dizer que hoje vi o Mitra e o Murphy não me avisou! Nada! Levantei-me  bem disposta, um dia risonho, uma disposição magnífica, a promessa de um dia positivo e revigorante... nada de nuvens ameaçadoras, presságios soturnos ou vibrações negativas!
   Quando digo que vi o Mitra tenho que me corrigir uma vez que foi o Mitra que me viu a mim: quando dei por ele, já ele estava de olhos fixos na minha pessoa! 
   A registar: o supermercado Continente é uma zona de alto risco para contactos indesejados! Fui apanhada completamente desprevenida e dessa forma, incapaz de empreender uma manobra evasiva! Tarde demais até  para voltar a cabeça e assobiar para o lado! Mas Deus foi misericordioso e o Murphy benevolente uma vez que o mitra estava acompanhado. Ainda olhei a nova vitima de relance, em busca de um pedido mudo de socorro; nada li de dramático no seu semblante... ou é presa recente ou a abordagem do mitra refinou-se!
   Após uma saudação rápida mas perfeitamente civilizada e antes que o personagem se entusiasmasse, esgueirei-me de mansinho fitando esperançosamente a porta de saída, tal como um atleta de velocidade fita a linha da meta. Aí chegada, respirei profundamente, o súbito friozinho na espinha dissipou-se com o calor da manhã e os cabelos eriçados na nuca descontraíram-se subitamente! Ainda na zona de perigo, deslizei agilmente até ao carro, meia a andar e meia a correr e pisguei-me enquanto pude! Durante  um minuto gargalhei insanamente, depois acalmei-me e dirigi-me para casa!
 
   Não vou falar mais no mitra, nem era minha intenção fazê-lo hoje mas precisava deste momento de catarse!


   Escrevo da segurança do meu quarto, as portadas fechadas, em semi-obscuridade, aguardo pacientemente o final do dia, em modo de prevenção! Pedi gentilmente ao Murphy para ficar do lado de fora!


   Já o conheço, é brincalhão quanto baste para me surpreender duas vezes no mesmo dia: para encerrar em beleza um dia em que foi rei, nada como encontrar o..... Outro!











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