Procura-se...

   Na penúltima folha do Diário Insular há sempre um cantinho para as meninas que se apresentam na ilha, um cartão de visita, oferecem os seus préstimos, mostram-se disponíveis para todo o tipo de sonhos e anseios. Confesso que acho mais graça a estes anúncios porque, apesar de pequenos são criativos e abrem espaço à criatividade de cada um, do que aqueles imensos artigos de opinião sobre assuntos enfadonhos, sensaborões e bastas vezes inúteis. Estes são os últimos que leio depois de passar revista aos restantes, o obituário incluído. Leio-os meia a contragosto com a mesma vontade e o espírito com que leio os rótulos dos shampoos quando me esqueço de levar uma revista para a casa de banho. Leio-os porque não tenho mais nada para ler, a compulsão da leitura tem este defeito, marcha tudo, o que é bom e o que não presta. Mas os anúncios das meninas não: são pequenos e não dão seca, de mensagem carinhosa, promovem a interação sem pressas e fazem o serviço completo. Têm carnes e seios fartos, destinam as suas qualidades quer a homens quer a mulheres quer a ambos. Nunca estão muito tempo no mesmo sitio pelo que é natural que escrevam nos seus anúncios que são os seus últimos dias, não porque morram mas porque circulam constantemente. Não há dois anúncios iguais, o que não posso dizer em relação aos artigos de opinião, que com palavras complicadas embicam todas no mesmo sentido; vamos lá, elas também, o sentido é aquele que todos sabemos mas a forma como o farão é muito mais fantasioso. No entanto, anúncios a oferecer préstimos de homens para mulheres ou de homens para homens nunca vi,  neste diário digo, o que me parece injusto; queria comparar e nunca pude, até hoje: não no diário de todos os angrenses mas nos classificados online açorianos. Hoje descobri um anúncio que me agradou muito, entre o anúncio da máquina de cortar relva e as explicações de latim; não oferecia mas procurava e isso desde logo me parece muito mais franco. Nos dias que correm ninguém oferece nada a ninguém sem que haja contrapartidas, já o contrário, quando se procura, a remuneração surge naturalmente pelos bons serviços prestados, e é desde logo mais justo porque satisfaz a ambos. É que, o que procura sabe ao que vai, elabora uma lista com os requisitos procurados, aquele que oferece muitas vezes mente. A menina que diz " carnes firmes e bumbum de sonho" está subliminarmente a dizer que tem um cu do tamanho de uma casa e que as excrescências das nádegas chegam à curvatura da parte posterior dos joelhos, se se proclama de seios fartos é porque tem os mamilos no umbigo,  morena fogosa é normalmente tanga, pinta o cabelo de preto mas tem as raízes raiadas de branco porque na obscuridade do tugúrio ninguém nota e de fogosa só tem os gemidos, vem no manual de boas práticas de cama.
     Dizia o anúncio: "Passivo procura activo. Procuro homem activo, meigo, culto e respeitador. Máximo sigilo. Contactar para mais detalhes." ou seja sucinto, prático com a informação necessária para que o leitor saiba ao que vai, não é o leitor que procura mas sim que é procurado, pelo que é ele que deve reunir as condições adequadas para a selecção a que será sujeito; deverá ser activo, fundamental, nada a fazer a esse respeito, o seu papel está definido; mas nada de ser abrutalhado, activo mas com meiguice e muito respeito, Discrição para terminar. É, desde logo, um anúncio honesto, objectivo e que aperta a malha ao que realmente importa. Grunhos e ignorantes como os que meninas atendem, que atendem tudo o que apareça, não são elegíveis, estão abaixo da categoria humana. São elitistas porque exigentes e com razão. Não estão para aguentar com carroceiros de bocas que fedem e com micoses nas juntas, daqueles que só vêm o sabão e a água quando a comichão faz ferida. Deveriam servir de modelo para elas, as que se anunciam, do tipo: " Menina na ilha procura homem que se mantenha devidamente lavado e com os pêlos do nariz e das orelhas aparados, que lave os dentes pelo menos uma vez por dia e que traga as vacinas em dia. Que faça desparasitações internas e externas e venha munido de um certificado de desinfestação com validade de um ano, pelo menos. Deve saber conjugar uma frase inteligível e que faça sentido. " Qualquer coisa do tipo para saber o que as espera, por uma questão de justiça e de alguma igualdade no confronto físico que se segue. 

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