A divorciada


   A mulher divorciada...
...desquitada...
...desemparelhada...
...desirmanada...

   É tema sumarento e cheio que derivações, afluentes e sentimentos poderosos. Sem saber bem como começar mas  dado que sou habilitada para falar desta casta tão especial, resolvi ir pesquisar sobre o tema e dei com triliões de blogues especializados  no assunto. São blogues densos, escritos por quem sabe, elas! Eles também poderiam mas faltaria o essencial, o fel.  São tantos que é caso para dizer que em cada blogger há uma divorciada; excepção das bloggers de culinária e de bricolage, essas são casadas, muito bem casadas e o sonho maior das suas vidas é alimentar e vestir o marido e os filhos, com pratos económicos mas saudáveis e roupas amigas do ambiente.
 Os blogues sobre o divorcio têm sucesso e muitas visualizações, só são batidos pelos blogues especializados em unhas de gel e depilação com linha, porque giram em roda de dois subtemas: o quão maravilhosas as mulheres divorciadas são e o quão javardos os ex maridos foram!  A divorciada típica é a mulher que se descobriu maravilhosa para não se atirar de uma ponte, que começou a pintar as beiças e a gostar de si própria ainda que viva com os olhos inchados. Descobriu também que será a única altura da sua vida em que não precisa de fazer dieta para emagrecer. Mais tarde, muito mais tarde, quando recuperar os quilos todos e porque é estóica na dor e sabe aguentá-la melhor que ninguém sentirá alguma nostalgia do único tempo em que vestiu o 36.
 A divorciada apercebe-se que há vida para além do casamento que já era, e no entanto vive ensimesmada com aquilo que podia ter sido e já não é. Rumina sobre a vida e sobre o sentido dela, sofre de constantes ataques de pena de si própria e do quanto o mundo é injusto. É uma calimero com filhos que vai batendo as asas a medo a ver se arrebita.

 O ex marido é para o resto da vida, como sarna sem cura, uma rémora bem atarraxada ao corpo de um tubarão martelo.
Adquirir o estatuto de solteira pós divórcio é uma impossibilidade! Pode casar e aí aumenta novamente de estatuto, não pode é insolteirar, está maculada para tal, só se redime se se atrelar novamente.  É uma cena tipo castigo, foste casada e não soubeste aproveitar, toma lá agora, aguenta - te! Ou então casa-te novamente! Existe enquanto esposa, divorciada é um embaraço! Uma falhada. Aí és divorciada? Não deu certo?! (acenos de cabeça com expressão de comiseração, boca franzida em desaprovação)... pois..... as pessoas hoje em dia não estão para aguentar os defeitos dos outros, dá trabalho. A divorciada não tem estaleca para casada, por culpa própria. Não sabe aguentar as contrariedades próprias do casamento, não tem fibra de monja, uma deficiência cromossómica.

   Enquanto recém sozinha alimenta-se principalmente  de rancor, e toda a gente sabe como esta ração é pouco calórica. Deixa de ter vida própria, passa pelo processo todo do luto pós divórcio enquanto o divorciado arranja uma forma mais prosaica, arranja outra mulher! É muito mais fácil passar pelo processo, com outra ao lado. Sentido prático é qualidade que falta a qualquer mulher, o homem utiliza-o muito bem em momentos de aperto. A divorciada não entende a simplicidade  da coisa, anda ainda às voltas com as questões de lealdade e tretas.
   Meses mais tarde é que se apercebe que ele não volta, ele percebeu isso no momento em que saiu de casa, Andou este tempo todo a matutar no que podia ser e não foi, enquanto ele tira a barriga de miséria. Na corrida para a emancipação de espírito anda uns seis meses atrás.               
   Quando se apercebe que é para sempre, consciente e conscienciosamente, contraria o mais possível o resto do bom entendimento que lhe resta com o ex marido. Fazê-lo penar um pouco dá-lhe um certo alívio às suas dores ainda que a dor passe a ser crónica.
   Como é uma sobrevivente, dá-se conta com alguma lentidão que não morrerá de sofrimento e finalmente arrebita. Começa a cuidar de si, a sair com as amigas e após um curto período em que o seu maior desejo era ser lésbica, lança os olhares a seres do sexo oposto. A medo e com vergonha a princípio, mais afoita após alguns ensaios. O ex sempre como comparação, o que se torna algo injusto para o ex que com a experiência, sai beliscado. Percebe finalmente que há mais mouros na costa e que a sua consumição era a de uma alma tola que só estava à espera de ser preenchida. E aí chegada é vê-la a desabrochar em toda a sua plenitude e desejo. O ex marido olha-a com outros olhos e chega a pensar se não cometeu um erro. Mas aí é tarde, o anátema da mulher casada já se diluiu na voragem dos dias e lhe parece a vida passada, irreal. 
   Adapta-se, reorganiza-se, descobre-se! 

Mas nem sempre, umas de luto ficam e carregam o mundo, Deus e o Diabo no lombo e sentem prazer nisso! 
  


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