Vais fumar droga?!

   No último dia de Fevereiro, o meu filho mais novo despediu-se na mim, na saída para a escola, com um: " Vais para onde, afinal?!", isto depois de lhe ter dito, pelo menos, umas 1568 vezes que ia dar um giro pela Holanda.
   " Ah, Holanda! Vais fumar droga?" .
   " Vou tentar!".
   " Boa sorte!".
   E pronto, foi o que se conseguiu de conversa no pequeno percurso para a escola, onde invariavelmente, ele me brinda com uma selecção musical que eu não pedi mas que tenho de aguentar, segundo ele para meu enriquecimento cultural das novas tendências.
   Há 30 anos se eu perguntasse à minha mãe se ia fumar droga  na Holanda levava um par de estalos. Há 40 anos eu não sabia que se fumava droga, ponto! De resto, e quando soube, nunca me passaria pela cabeça ter qualquer tipo de conversas desse teor com a minha mãe, com o meu pai, então, seria uma espécie de suicídio assistido. O máximo a que a minha irreverência juvenil chegou foi perguntar-lhe se o poderia tratar por tu. Não levei uma chapada porque não estava ao alcance da mão e mesmo assim tive de me esquivar. Eu cá achei que a pergunta era legitima, os meus amigos tratavam os pais por tu, o meu pai não foi da mesma opinião. 
   O Guilherme é rapaz para questionar por uma questão de desafio à autoridade, não porque se sinta confortável com o debate destas questões com o ser alienígena de nome Mãe. Com a mãe não se fala destes assuntos. Ter a mãe a dar corda à conversa e a desafiá-lo armando-se em progressista pós-hippie é mais do que um adolescente "conservador de pais" pode permitir. Andou a minha geração a desbravar terreno para que os nossos filhos sejam agora uma espécie de nossos pais, quadrados e intransigentes nos nossos comportamentos. Bem, na verdade, nem eu nos meus tempos de rebelde progressista, alguma vez imaginei que os meus pais tivessem sexo,  tal cena é inimaginável, no que me diz respeito, fui concebida por intermédio divino do Espírito Santo. Ouvir, certo dia, a minha avó mais a minha mãe e tias a falarem de técnicas inovadoras de contracepção por intermédio de tripa de porco, foi chocante e cru e muito pouco esclarecedor. Imagino, o que será para os meus filhos, imaginar os pais a "fazê-lo"! 
   E, no entanto, dá gozo abanar estes miúdos!
  Se me pode perguntar se vou fumar droga, aguenta ouvir um tese de mestrado como resposta, como ouviu hoje quando lhe desliguei a musiquinha no carro e encetei uma resposta à pergunta de há uma semana:  que fumei, gostei, sensações e descrições pormenorizadas dos procedimentos e rituais e que lhe trouxe um chupa chupa de erva para experimentar. Não abriu a boca, simplesmente ouviu e digeriu. Com o tempo aprende... ou não. É para não se armar em parvo, assim pensa duas vezes da próxima vez à pergunta se vou fumar droga na Holanda.  



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