Massagens e afins


   Alguns dos meus amigos, fartos de me ver tão baldas, não me atrevo a pronunciar a palavra desmazelada mas na mente deles é nela que pensam, resolveram oferecer-me vouchers de cuidados corporais. A Leonor já me ofereceu uma massagem e tratamento facial e há poucos dias achou que os meus pés também estavam a precisar. Já outro dos meus amigos achou e muito bem que uma massagem de relaxamento ao corpo todo me ia a matar. Tenho outra amiga, a Marta que sei que tem pena que eu seja assim, desmazelada mesmo. Outro dia andava eu a perder alguns fios do biquíni  de sempre, biquíni que já perdeu a cor mas se formos a ver a gente compra roupa já de si descolorida para dar aspecto de velha, faz-me lembrar as calças de ganga da base que eram duras como calhaus e que a gente gostava de ir clareando com o tempo e com as lavagens, já completamente rotas entre coxas, joelhos.. falava do biquíni  ok era velho admito mas gostava dele, pois a Marta  não aguentou mais e lá me vem um dia com  um biquíni  daqueles onde a cueca serve para uma das minhas nádegas, faltando a outra, portanto. Entretanto, tempos mais tarde, fartinha de ver a mochila sebosa que me acompanha sempre, tipo pulgas em cão, ofereceu-me  uma mochila toda grife cheia de tachas, tipo sadomasoquista como muito bem referiu o João. Sei que anda mais aliviada por andar a cuidar de mim! Eu cá gosto!

    Em relação aos cuidados corporais andam saturados de me dizer: "Epá, cuida-te, um simples creme facial, nada de muito difícil  pelo menos isso, bolas!". Sendo assim e porque por mim sentem um carinho muito grande e querem ver-me bem, vai daí e toma lá e vai cuidar de ti. E eu fui! Hoje! Primeiro foram os pés, a minha tratadora de pés, a Esther foi uma boa surpresa, é mexicana, vim a saber depois, amorosa, vi que ali havia uma americana das latinas que aquele espanhol/castelhano era demasiado bem pronunciado para ser de uma espanhola de Espanha. É mexicana! Exultei! Este foi o meu segundo tratamento de pés de toda a minha vida e, não interessa se é massagem a pés, a bochechas ou a pernas, é importante que haja algum clique amistoso entre os intervenientes, afinal de contas não é a toda a gente que delego as funções de me massajar. Tenho que saber de onde vem, quem é o pai, de preferência, quais os seus propósitos na vida. Se é homem ou mulher, nesse aspecto sou muito democrática. Lembra-me a história de algumas mulheres que dizem " ai eu cá gosto mais de homens como ginecologistas, são muito mais gentis, as mulheres são muito mais brutas!" Maganas, é o que eu tenho como resposta! Em relação aos pés é tudo muito mais simples, massajam-nos os pés, ponto final! Não há hipótese de nos darem massagens em mais sitio nenhum e assim podemos relaxar efectivamente. No entanto até mesmo nos pés, há contacto físico, muitos tarados de pés, podiam perfeitamente argumentar que seria uma experiência muito mais erótica do que andarem a amassar as nádegas, tipo pão de casa! E como estamos ali  um em frente ao outro, uma em frente à outra, sinto-me compelida para fazer conversa; normalmente fico a saber, de uma forma geral e no que realmente importa, a vida da outra pessoa; vou perguntando e a outra pessoa vai respondendo; se o meu interlocutor é de temperamento perguntador como eu, entramos num momento de algum modo zen, a pessoa dá e eu retribuo; excepto quando me tenta lixar as plantas dos pés, aí entro em gargalhadas insanes e a coisa passa por uma fase desequilibrada. No caso da Esther só faltou mesmo trocarmos números de telefones, ainda por cima disse que tenho uns pés bonitos, deve dizer o mesmo a toda a gente, eu sei mas mesmo assim foi simpático da parte dela e o momento partilhado entre nós duas, de uma forma pequenina, é certo, acrescentou algo na nossa vida. A seguir e porque para isso estava virada, fui à loja concorrente reivindicar a minha massagem a corpo inteiro; bem, se o outro momento foi de uma certa plenitude, este foi quase perfeito. Quase! Vou explicar:

    Primeiro - estava um calor do caraças lá dentro; dado que a Luísa me pôs completamente à vontade para falar sobre o que me incomodava disse-lhe que morreria em cinco minutos se não desligasse o aquecimento. Aliviada ficou ela que também estava já a entrar em sofrimento;
   Segundo - Fiquei sem saber se deveria encetar conversa: lá está, desta feita a massagem ainda era mais intima (não no sentido em que as vossas mentes perversas já divergiram!!!!), pelo que se impunha, sei lá, uma apresentação mais formal, de onde vens, quem és, o que esperas da vida, quem são teus pais, lá está, uma pergunta fulcral na verdade, pelos pais que se têm se descobrem os filhos, achei que a coisa estava um pouco a frio, se me entendem, porque na verdade a sala estava a modos de me deixar enlasguescida de tão encalorada. Por volta das mãos, aí já doidinha para abrir a boca não me contive " a minha mão esquerda está com artrite, alivia-me imenso a massagem!" Foi o quanto bastou para quebrar o "gelo", a Luísa soltou a língua  eu derivei para a minha miopia e alergias, daí entra-se no clima da ilha, tema que dá para filosofar durante uma hora se se for parco em palavras, e pronto, mais uma etapa ultrapassada;
   Terceiro - um dos meus braços na marquesa ( lindo nome) ergonómica estava a resvalar para o vácuo, a ficar sem irrigação sanguínea de tal forma que quando ela me agarrou na mão não a sentia, picava somente, pensei por momentos em gangrenamento, vi momentos depois que estava a ser demasiado  dramática; de todo o modo penso que se fizerem estes divãs 10 cm mais largos atendem mais clientes, se eu que não sendo magra ainda não atingi o topo do índice de massa corporal e por diversas vezes escorreguei para os lados, como será com aquelas senhoras que são como massa de pão já levedada que não tem mais por onde abrir se não para os lados?!
   Quarto - de barriga para baixo pensei porque raio se lembraram de deixar um espaço para o nariz e boca para respiramos e não tinham pensado em arranjar uma forma para acomodar a testa que sabia eu que estava a ficar vincada da pressão e dois buracos para as mamas para se ajeitaram melhor?  Além do mais dei por mim a babar-me para o chão, de boca aberta para poder respirar era previsível que acontecesse! A música dos passarinhos tinha-se calado há quase 5 minutos atrás, confirmo que ouvi o pingo de saliva a cair no chão, pareceu-me na altura embaraçoso, se ela ouviu não sei dizer, este pessoal é de uma discrição à prova de bala!  A propósito de discrição, estava ela a massajar-me a barriga e pensei: Quantos fófós não verão a luz do dia à conta destas pressões abdominais? Como será exteriorizado esse momento?  Tudo questões que se me puseram no momento!!!   E é quando preciso estar sossegada e entrar na onda que me dá as comichões no nariz, nunca de uma vez só, é aos bocadinhos, primeiro na narina esquerda por fora, depois é na direita, depois é mesmo lá dentro e depois é em todo o lado e depois apetece-me arrancar o nariz fora;
   Quinto - na parte em que me massaja o rosto achei que por momentos ela divagou um pouco, mas que diabos, qualquer artista improvisa um pouco; a parte em que ela me prime os olhos na parte interna  e me esbugalha só um pedacinho os olhos foi uma experiência intensa e forte. Passada a analogia com os filmes de terror tenho para mim que aliviou, o que quer que seja, aliviou.

    No final a Luísa fez-me um teste, a ver se eu tinha aproveitado verdadeiramente o momento: levantou-me o braço e tipo marioneta deixou-mo cair; é muitos anos de casa, a gente aprende com o miúdos, deixei-me cair como num marasmo profundo, como se as minhas meninges não estivessem estado a trabalhar a todo o vapor, exteriormente é como se eu estivesse em coma alcoólico! Admito que fiquei orgulhosa de mim apropria  é que nem toda a gente consegue este estádio, estar com o corpo e a mente a duas velocidades opostas. É coisa de mulher mesmo!




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