Importa-se de repetir?!

   De há dois meses para cá tenho um novo colega na escola, parece que veio assessorar o nosso conselho executivo, é macho e contrabalança um pouco a tendência feminina do grupo. Parece que percebe de leis, é daquelas pessoas que está a par de toda a legislação, e quando falo de toda é mesmo toda: portarias, projectos-lei, despachos e o que mais houver e tal como o nosso presidente da republica que sabe onde cabe cada virgula também este está habilitado para o confirmar ou desmentir.  Aparenta ser um tipo simpático, como sabe que todo o assunto que diga respeito a legislação e afins, com raras excepções de alguns seres iluminados, nos enfada até à morte, tenta falar depressa para despachar a temática. No entanto, se por incapacidade lingual de correr à mesma velocidade que o seu cérebro, se por problemas na fala, aquilo que era suposto ser uma sucinta e rápida explicação de uma lei torna-se numa penosa e corajosa  experiência colectiva. Este senhor executa a árdua tarefa de comer algumas sílabas, normalmente as sílabas finais e omite certas consoantes o que resulta numa espécie de  português muito parecido com aquele que os surdos-mudos conseguem falar com a diferença que este senhor ouve. Tem também o péssimo hábito de gaguejar em momentos cruciais, normalmente nas palavras imprescindíveis à compreensão do sentido da frase. A perguntas frequentes " percebeste o que ele disse?" sucedem-se algumas palavras emblemáticas no qual é rei o " pogama" no sentido de " Já leste o pogama?" ou " Qual é o pogama para hoje?".
   Esta escola está super bem equipada, a sério, é uma escola exemplar, temos psicóloga e terapeuta da fala, vamos lá, temos beiras de água no pavilhão quando chove muito, o que nesta terra corresponde a 2/3 do ano mas querer a perfeição absoluta do empreiteiro de serviço é um pensamento lírico. O grupo de professores e profissionais que prestam serviços de apoio aos alunos com necessidades educativas especiais e a todos aqueles que não conseguem dizer PROGRAMA é bastante simpático,  são todas mulheres e andam por vezes pegadas no sentido quase literal da palavra, no entanto as professoras são  mulheres mais polidas e não se dará o caso de irem à cara uma à outra por dá cá aquela palha, as disputas são mais cerebrais, de impacto mais subtil contudo, mortífero. Dou por mim a olhar para os míseros professores que trabalham connosco e a descortinar o que raio pensam eles de uma capoeira com tantas galinhas. Um tipo de estudo sobre eles que passam a maior parte da sua vida produtiva a trabalharem com elas seria no mínimo giro. Acredito que grandes conclusões se poderiam tirar! Ora continuando, tendo uma terapeuta da fala a tempo inteiro nesta escola, mais, uma psicóloga a tempo inteiro na escola, tendo as duas ao mesmo tempo, sabendo eu como sou, sinto que mais cedo ou mais tarde, sem que para isso me tenha sido pedida opinião ou conselho, acabarei por lhe perguntar se já pensou na possibilidade de se tratar com as excelentes profissionais que temos na escola. Não faço ideia de como será recebida esta minha proposta, no entanto é meu dever fazê-la, por uma questão de justiça. Se numa reunião de conselho pedagógico, ou numa reunião de trabalho em que ele esteja presente para nos elucidar com os seus excelentes skills burocráticos, nós percebermos 1/3 do que diz, seremos no mínimo 10 ouvintes a sair dali a perceber a ponta de um corno, que é como quem diz...nada!

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