Billy Elliot

   A ver Billy Elliot hoje, no primeiro dia de Fevereiro... mais cedo, nesta tarde de 6ª feira, uma turma do 5º ano; mandei os rapazes,  depois de uma aula de segunda-feira onde me fizeram a vida  negra, bocejaram, cruzaram os braços,  protestaram, afirmaram ofendidos que dançar era para meninas, insisti que iriam dançar o chachacha, dançaram, diria que fizeram o melhor que souberam para me deixarem furiosa... dizia, enxotei-os, todos para a rua,  um campo de futebol sintético melhor do que muitos campos do nosso país, é isso que querem, é isso que vão ter, uma bola e 5 coletes, vão-se embora e não me chateiem...fiquei com as meninas... aula estranha, silênciosa... trabalhou-se o chachacha e a rumba quadrada, em silêncio quase absoluto, com a música suave, elas atentas, eu empolgada por conseguir ensinar algo mais do que o trivial...  eles a claudicarem aos poucos , um pé magoado, um outro que não lhe passa a bola, discussões sem nexo, eles a vê-las dançar, bem, relaxadas, de rostos luzidios e animados. Eles sem darem parte de fracos " querem dançar? venham.. não sei dançar, não gosto, dançar é para meninas..." mas olhando para elas e ficando a olhar, a gostar de ver o que estão a ver, elas bonitas, coradas a perceber o que a professora quer, orgulhosas de perceber como fazer...risonhas, vermelhas do esforço, rodem as ancas meninas, soltem-se, oiçam a música, deixem-se levar... um que pergunta "posso dançar, professora?" ar sério e envergonhado, "claro que podes, segue-me" a mostrar-lhe como se faz, ele contente e enfim solto, a música que entra a custo no seu corpo mas que faz eco.. ele que relaxa, que respira mais suave, que se solta e que me segue... rápido, rápido, lento, ouve a música, deixa-a entrar... rápido, rápido, lento... outro que entra e que se detêm... " professora, estou cansado posso entrar?" " claro, descansa um pouco" . Vislumbro pela porta ampla, eles lá fora, em jogos de macho, barulhentos, quezilentos, uns felizes outros frustrados, passa a bola, porra, tou sozinho aqui à frente, caraças. A constatação aliviada de que os meus meninos do 5º ano ainda não são de dizer grandes asneiras e que ao contrário do que me vou habituando ultimamente, com uma grande tristeza sentida, estes meninos ainda são doces e meigos, irrequietos como devem ser as crianças, irrequietos mas francos, verdadeiros, felizes de estarem ali." Oh professora, estamos cansados, podemos vir para aqui? Vais dançar?" Encolher de ombros..." anda lá!" peço risonha ... uns que entram depois dos outros, aproximam-se, vamos lá, na rumba é fundamental o movimento de anca, alguns finalmente desligam do que os impede de se soltar e dão uns abanões engraçados aos quadris, sorrio para dentro, apetece-me soltar uma gargalhada e dizer " é isso, meu grande banana, estavas para aí a fingir que nada sabes disso e no entanto sabes como se faz, vá, deixa-te de coisas e mexe-te". Exagero na forma de dançar e digo - imitem-me -  eles e elas riem-se e obedecem, uns no ritmo, os outros numa onda paralela, de expressão corporal estranha, já lhe passaram as vergonhas e esqueceram que há mais gente ali e dançam, atabalhoadamente, com jeito, não importa. Interrompe-se a aula para os mandar para o duche,  o tempo que passou sem se darem conta.

   A ver Billy Elliot em chegada a casa e penso nos meus alunos, um sorriso grande, nem de propósito, um dia destes reservo-lhes uma aula para vermos  o filme! A ver o que eles dizem!





Comentários

  1. Um grande, grande aplauso do lado de cá do mar. Eu nunca gostei da bola, adorava ter tido esta s'tora.
    Esta é, certamente, a tua missão na vida: pôr rapazes Açorianos a dançar. Parabéns.

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  2. Como eu gostava de ter aprendido a dançar quando os meus pés ainda estavam bons e não deformados (herança genética do lado paterno!

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  3. Obrigada Zé! Missão dura mas exequível! :))) Flora, nunca é tarde para uns passinhos de dança mesmo com os pés deformados! Beijinho

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