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A mostrar mensagens de maio, 2015

Curtas da escola

        Conversa com a minha turma maravilha, última aula da semana, sempre animada de uma forma retorcida. Ginástica de aparelhos: Meninos, lembram-se do nome daquele aparelho? Uma espertalhona: cavalo! Outro, frenético: Égua! O terceiro, a descambar ainda mais: Mula! A este, baixinho e franzino, pego-lhe pelos colarinhos, encosto o meu nariz ao dele e com o tom mais intimidatório que consigo, digo entre dentes: Boque! E o artista sem desarmar: Reboque? Cá nada, não vejo nenhum engate!    Tenho nas minhas aulas um combate permanente com os alunos no que concerne à utilização correcta da língua portuguesa e à terminologia própria das modalidades desportivas. Na ginástica, outro dia insistia com uma aluna que dizer " abrir às pernas" ou " pernas abertas" era uma forma muito deselegante de falar pelo que pedi um verbo sinónimo e mais bonito de s e  pronunciar ao que esta aluna respondeu prontamente " esgaçar, senhora professora!"   ...

A palavra às crianças: retratos de uma professora

                                                                     I Capacidade de atenção de uma turma do 5° Ano: Pessoal, vamos jogar o jogo da mosca ( jogo infantil/tradicional). A mosca é o último a saltar e define o comprimento do salto seguinte. Dois minutos depois um aluno " professora, posso ser a formiga?" " a mosca, a mosca" respondo. Mais dois minutos depois, outro " quero ser a abelha" " a mosca!" " ai pois é a mosca!" Mais à frente, um terceiro: " agora sou eu o mosquito!" . " ok, pessoal, afinal de contas não me posso queixar de falta de criatividade: podem ser o que quiserem! " II Na aula, uma turma do 5° ano, exercícios de progressão para o salto em comprimento. Um artista daqueles com resposta na ponta da língua, atrapalha-se na chamada (impulsão) antes do salto, várias vezes. " Me...
   O ego desmedido de algumas pessoas deixa-me desconfortável! O embaraço alheio que custa tanto a suportar porque olhando para aquela pessoa em concreto é como se nos víssemos nela e a possibilidade da figura de urso que faríamos acaso fossemos atraídos para tais desmandos de vaidade. Tal  como escarneço de todos os falsos modestos, os que tendo talento o sabem como ninguém e se envergonham quando, os outros, os enaltecem como devem e merecem mas, porque lhes disseram que os feitos concretos e louváveis não são de se apregoar aos quatro ventos, mantém uma postura de recato quando por dentro temem explodir de auto-jubilo. E no entanto, prefiro de longe um egocêntrico declarado, assumido e insuportavelmente pedante a um egoreprimido que se vai enchendo de soberba mal contida enquanto ruboriza a cada elogio e encolhe os ombros dizendo. " Palavra, não sei donde vem este talento. É intrínseco mas não vale a pena faz...

Curtas

   Num passeio noturno passámos, ali pela rua de Santo Espírito, por um grupo de turistas portugueses já entradotes na idade, ruidosos e bem dispostos. Cruzamos-nos com eles em frente da GNR, indo estes na direcção do Pátio da Alfândega e um deles, conhecedor, ia dando indicações quando se ouve uma senhora perguntar com aquele tom meio enjoado com que alguns, os das cidades grandes usam para falar da província:" Mas afinal de contas aquilo ali à frente é rio ou mar?". Pensei res ponder-lhe que era o rio Guadiana mas mordi a lingua pelo que lhe disse, ela já de costas " É o Oceano Atlântico, minha senhora, francamente!" Ela seguiu o seu caminho sem se sentir beliscada. Penso que ouvi gente a rir do dito espirituoso da senhora. Lá se foi aquela ideia que eu tinha que toda a gente com idade para pertencer à terceira idade sabia de cor e salteado, rios e afluentes de Portugal e Ultramar, linhas e estações de caminhos de ferro e outras minudências da geografia do nosso ...
Hoje, numa das minhas aulas, enquanto uns quantos saltavam à corda, uma rapariga de 12 anos, espigadota em altura e veneta, zangada porque um colega a tinha feito tropeçar na corda lançou um “Caralho, foda-se!” automático, dito do fundo do peito, a certeza de que assim fala, naturalmente, no seu dia-a-dia, na relação com os outros. Após o ímpeto inicial e de refilar ao castigo aplicado, veio perguntar-me se podia retomar a aula. Não me apareceu numa postura que fosse de alguma humildade e conciliação. O pedido de desculpas invariavelmente ausente; refilando ainda, gaguejou no tom acima do tom, com que sempre fala com as pessoas, quaisquer que sejam, de que o outro a tinha enervado. A conversa continuou mas num sentido só, comigo a tentar explicar-lhe porque não podia ser esse o caminho, com ela a argumentar que a sua zanga tudo podia, até a agressão verbal, ao colega e a todos os que se encontravam por perto. Tentei mostrar-lhe que cada qual tem que medir os seus actos, porque cada ac...