A minha mãe

Um mês passou. A minha mãe morreu num dia ameno de junho, o dia 19, nesta cidade de Angra. Era uma ténue sombra de si própria, um regresso progressivo e inexorável à sua primeira infância. Fisicamente definhou, tornou-se mais pequenina, perdeu a capacidade de falar, de se alimentar sozinha, de se alimentar depois. Eu era a senhora má ou a senhora boa conforme a sua disposição. Na minha condição de filha assumi a figura de sua derradeira mãe. Preciso da minha mãe! Quero-a a reconfortar-me, a mimar-me, a limpar-me esta ferida, quero a minha mãe a passar-me a mão pelo cabelo e a dizer-me que está tudo bem! Quero que a minha mãe seja minha mãe outra vez! São nove horas da noite, uma necessidade enorme de escrever sobre ela; quero que o tempo pare e que retroceda! Que retroceda a momentos em que era ela, a minha mãe, a fazer de mãe, que é para isso que as elas têm de servir, para nos socorrerem nas nossas aflições, abr...